
Será o cinema uma grande ilusão? As imagens projetadas numa tela branca significam, apenas, uma quimera? Na grande maioria dos casos, não seria a “representação” das múltiplas realidades que normalmente vivemos? De quando em vez, esses não seriam fatos muito mais contundentes, cruéis e espetaculosos, que as mostradas pelo próprio cinema?
Um parágrafo inteiro de indagações, como esse aqui ordenado, quiçá, não seja suficiente para buscarmos uma resposta. Uma definição do que mais simbólico e belo deva ser a arte-do-filme. Uma Arte singular, completamente maiúscula, que traduz de forma plural e direta em seu discurso o intimismo, ou a extroversão dos quantos personagens aborda, remotamente conduzidos numa velocidade em 16 fotogramas por segundo, também no padrão sonoro atual de 24 quadros por segundo. Ou, ainda, digitalmente construído em frames, para citarmos sua tecnologia atual.
A complexidade estrutural narrativa do cinema continua a mesma: a de veicular através do folhetim, uma mensagem direcionada a “alimentar” o sonho. No começo, simplesmente “move” de imagens, hoje com adornos e todos os aparatos tecnológicos e audiovisuais possíveis, então destinados ao entretenimento, enquanto função social.
Contextualizando entre conteúdo e preferências no cinema, de quando em vez, fico meditando sobre a estranheza de algumas afirmações, muitas vezes manifestadas impensadamente, de que o cinema de hoje deveria ser muito mais “visual”, com cenas brilhantes e claras como um dia de sol. Será que o cinema de hoje também não é construído sob tal propósito, quando lhe cabe determinadas “afirmações” narrativas? Não obstante ser uma “Arte de Luz”, como afirmara o genial Fellini? A rigor, cinema não é só cenas claras e brilhantes como se tem na televisão, cuja luz primitiva, tecnicamente diáfana, houve de ser sublimada, quando se assemelha à luz do cinema.
O grande mistério do Cinema está nele mesmo; na sua fantasia, que nos transporta, ampliando as visões de mundo daqueles que, desde o início de seu aprendizado, se proponham a segui-lo. E isso me lembra as experiências realizadas durante os festivais na cidade de Areia. Um início que cresceu pra muitos que, hoje, militam profissionalmente no cinema. Mas, partir do momento em que se ousa desmistificar o cinema, o seu âmago, a sua essência enquanto “Arte do belo”, pouco ou quase nada restará do seu encantamento. Cinema é arte a da contemplação, ao inatingível em sua essência: a tela branca onde são projetadas suas imagens. Por trás dela, mero vazio, o “nada”, apenas o sonho, a quimera… Pertinência: “La Grande Illusion” (1937), obra do cineasta francês Jean Renoir.
O que os Olhos Não Veem…
Ocupante da Cadeira 35 da Academia Paraibana de Cinema, que tem como patrona a atriz Margarida Cardoso, a cineasta Vânia Perazzo exibiu e comentou, esta semana, o seu filme O que os Olhos Não Veem, em sessão gratuita no Sesc Cabo Branco, em João Pessoa, sob a marca do Cineclube Homem de Areia, da Fundação Casa de José Américo. O filme, premiado como Melhor Roteiro no Fest Aruanda, em 2019, é baseado em uma peça teatral e discorre sobre a “desventura” e a amizade de duas mulheres em seus cotidianos.
A cineasta Vânia Perazzo, natural da cidade de Areia, região do brejo da Paraíba, tem uma lista importante de realizações a destacar o cinema paraibano. A APC parabeniza a sua parceira de academia.