Lembrando para não esquecer do cinema (II)

Prof. Luiz Soares Da Familia Do Prefeitio Heraldo Gadelha
Foto: Prof. Luiz Soares, da família do Prefeito Heraldo Gadelha.

Naquela manhã, agora mais tranquilos por estarem todos juntos, Severino e sua família assistiam, perplexos, pela Rádio Tabajara um pronunciamento dramático do então governador Pedro Moreno Gondim, da Paraíba: “Não posso e não devo, neste instante de tanta inquietação nacional, deixar de definir minha posição, na qualidade de governador dos paraibanos…”Fala assessorada pelo seu genro, o deputado campinense Antônio Vital do Rêgo, tornando ainda mais crítica a situação na cidade de Santa Rita. Mesmo porque, no dia anterior já se sabia da existência de fortes contingentes armados de mil e quinhentos homens, prontos para o que desse e viesse, aquartelados na região de Tibiri, fora do centro de Santa Rita, onde ficava a fazenda do sogro do então deputado Joacil de Brito Pereira, tido como pessoa ligada ao governador Pedro Moreno Gondim.   

Reconhecido amplamente em toda sua cidade, sobretudo, pelo exercício e comércio cinematográfico que processava, sem jamais se envolver com partido político algum, mesmo assim, Severino temia pelas mudanças que teria de enfrentar, a partir de então. O filho, por sua vez, quase não ouvira seu pai falar de política. Salvo, quando se referiu uma vez sobre o sentido comunitário e de resistência social, por ocasião da passagem da Coluna Prestes pela Paraíba. Fato ocorrido alguns anos antes. Sabia também o filho das opiniões que o pai tinha, apenas em recinto doméstico, sobre o prefeito Diógenes Chianca, de gestão passada, como um realizador de obras importantes para sua cidade, como o Mercado Central, por exemplo. Para Severino Alexandre, referência especial de homem público. Mas, só isso. Independente, se o governante municipal seria “pessedista” ou taxado como “político aliado dos comunistas de Santa Rita”.

“Seu” Severino do cinema, como era conhecido na sua cidade, jamais se sentia entusiasmado com as questões partidárias, mesmo nas vezes em que fora contatado por candidatos locais em suas campanhas municipais, prá prefeito ou vereador. De qualquer modo, ele se mostrava, como pode se dizer, “um discreto simpatizante das esquerdas”. Ciente, o filho buscava sempre explicações sobre assuntos políticos e culturais com o seu professor Luiz Soares (foto), residente na Rua Juarez Távora. Também, gostava de ouvi-lo tocar no velho piano da sala as músicas de Chopin. Professor Soares era da família do deputado Heraldo da Costa Gadelha, que era prefeito de Santa Rita, em pleno período da ditadura.

 Sempre admirado pelos políticos, Severino rendia-lhes o voto de maneira discreta, sem que necessitasse pedir-lhes algo em troca. Como também, nunca solicitou à própria família dar preferência a qualquer candidato, oferecendo a todos ampla liberdade de escolha. Não obstante, jamais lhe faltou consciência social sobre os valores de sua cidade e seu desenvolvimento; mesmo, em razão das mudanças que estavam acontecendo. Influências transformadoras oriundas da Capital, que se irradiavam por todo o Estado. Tais fatos se confirmariam muito mais tarde, nos escritos de um dos nossos influentes historiadores para a Academia Paraibana de Letras: “O ano de 1964 e tempos seguintes são de uma forte dinâmica política e social, na Paraíba. Deslocando as atenções do plano meramente político ao plano cultural. Fato que possibilitaria, à época, o crescimento de manifestos e criação de associações de jornalistas, intelectuais, professores e advogados, e de entidades estudantis e religiosas que valorizavam a cultura e as artes.” (continua)


Durante a reunião mensal da Academia Paraibana de Cinema, realizada quarta-feira passada no Cine Mirabeau, no bairro Bessa, a secretária geral da APC, atriz Zezita Matos, presente ao encontro, foi felicitada pela diretoria da instituição, por sua participação em O Sertão vai vir ao mar. O “especial” foi gravado nas cidades de Pilar e São Miguel de Taipu, e apresentado antes para todo o Brasil em Tela Quente, na Globo, depois exibido publicamente, em forma de cinema, nas duas cidades.

Para a Zezita Matos – atriz bastante requisitada para longas-metragens e curtas, sendo Anna Margot um dos seus últimos trabalhos –, “foi um duplo prazer ter voltado à cidade em que nasci”. Zezita Matos é natural de Pilar.