Lembrando para não esquecer do cinema (III)

Ator Othon Bastos No Papel De Corisco Em Deus E O Diabo Na Terra Do Sol De Glauber Rocha
Foto: Ator Othon Bastos no papel de Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha.

Naquele abril de 1964, já sob a alça de mira do regime militar, seleto grupo de jovens idealistas, todos estudantes ginasianos, participavam do Grêmio de Estudos Socioculturais (GRESC). Mas, às escondidas, em razão de “olheiros” partidários do novo regime. A cidadania houve de amargar momentos terríveis. As restrições não só se limitavam à sociedade, mas, sobretudo à cultura, às artes e diversões, que passaram a ser perseguidas de forma implacável. A censura se instalara no País, cerceando liberdades e os fazeres criativos da população.  

O novo regime caiu como uma bomba em cima do cinema. Durante anos, caminhou-se pelas regras recessivas impostas pela ditadura. Uma “censura prévia” foi dominante para tudo que se referia às artes. Tempos difíceis não só para um pai, dono de cinema, e seu filho jovem estudante, idealista, mas, para toda uma juventude do seu universo de indagações e cheia de novas vontades, na busca de afirmações. À época, publicávamos o jornalzinho semanal “Os Sinos de Santa Rita”, bancado pela paróquia de Santa Rita, sob muito cuidado.

Para alguns amigos meus de convívio cultural, como o primo “Reginaldo músico”, como era conhecido, a situação era ainda pior. Estudante de Direito na UFPB, participava de manifestações na Capital, tornando-se alvo mais fácil na sua luta, em Santa Rita, justo pela “contrarrevolução”. Mais ainda, por assistir à encenação de uma peça teatral no Auditório do Lyceu Paraibano, em João Pessoa, programada pelo novo Departamento Cultural da UFPB: Os fuzis da Senhora Carrar, peça de Bertolt Brecht, de forte conteúdo político-ideológico, sendo discutida dia seguinte no GRESC, agremiação da qual eu participava, juntamente com vários jovens estudantes da minha idade.

Nesses encontros, inicialmente realizados no âmbito da Casa Paroquial, não mais sob orientação do pároco Monsenhor Rafael de Barros Moreira, mas de dois padres vindos da Bélgica, Maurício e Paulo Koellen, traçavam-se os perfis da situação repressiva ora vivida por todos. Depois, esses encontros aconteceriam na Associação Vicentina de Santa Rita, na Rua Ivo Borges, perto de casa e do Cine São João, de meu pai. No cinema, onde instalamos, no primeiro andar, por traz da então tela de projeção, a sede do Cineclube Hitchcock. Dele, participava inclusive o meu antigo professor de geografia José Cornélio da Silva, que viria a ser cassado também de suas funções na Great Western.

Manhã ensolarada de domingo, todos eufóricos e já acomodados na sala de projeção do Cine São João, para exibição de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Nem bem havia iniciado a sessão do Cineclube, quando entram de repente dois fiscais da Polícia Federal, de mandado em punho, e foram logo gritando:

Parem a sessão! – Um dos tais, de aparência truculenta, indagou:

Quem é o responsável por isso aqui?

Meu pai não estava presente, e a julgar pelas recentes prisões, torturas e arbitrariedades, jamais me denunciaria. Não era hora para gestos heroicos…  

Pois bem, o filme está confiscado. – Sentenciaram e foram logo subindo rumo à cabine de projeção, onde se encontrava o operador Zé Alonso, a quem entregaram uma intimação dizendo para comparecer dia seguinte à PF, em João Pessoa. Por fim, juntaram as latas com o filme e foram embora. Fiquei, então, sob pasmo. Dia seguinte, sem que meu pai soubesse, para não o contrariar, fui sozinho à Polícia Federal explicar o “porquê” da exibição do filme de Glauber Rocha.


Representando a Academia Paraibana de Cinema, seu presidente João de Lima participou, na nesta terça passada de uma reunião com o secretário da Cultura Pedro Santos e vários representantes do audiovisual. Na pauta, uma discussão sobre a Lei Aldir Blanc e as políticas estruturantes para o segmento audiovisual paraibano.

Segundo o professor João de Lima, as sugestões que foram apresentadas sobre a lei e os demais temas, durante o encontro, serão tratados na reunião da APC, no próximo mês de maio, no Auditório do Cine Mirabeau, no Bessa (Aeroclube), em João Pessoa.