Por um estoico cristão exibidor e seu legado

Pioneiro Exibidor De Cinema Paraibano Severino Alexandre
Foto: Pioneiro exibidor de cinema paraibano Severino Alexandre.

Usando de metáfora, afirmaria: naqueles tempos… conduzindo sua enorme “cruz”, eventualmente menos pesada do que foi a d’Ele, aquele nosso cristão paraibano percorria as vias tortuosas de uma atividade que logo cedo abraçou. Uma existência por muitos considerada não apenas de mero negócio e pecúnia, mas de opção, por um encantamento diferente, que era partilhado com todos aqueles que o procurassem em seus “templos” de imagens, sonhos e diversão. 

Firmara ele (o nosso devotado cristão exibidor) uma aliança, um consórcio imorredouro com o seu amado Cinema. Igualmente, foram as vias “sagradas” do seu próprio dia-a-dia, também dos quantos como ele se dedicavam à arte de luz e sombras; até artesanalmente. Era ele um especial cristão, que logo cedo aprendi a conhecer e amar, desde os meus primeiros anos, no labor da ainda não “poluída” arte da exibição cinematográfica.  

Não muito infaustos os rumos àqueles “calvários” especiais, à sua maneira foram seus primeiros anos de exibidor cinematográfico; não menos “sagrados”, por isso mesmo resignados, no sentido amplo da austeridade e da resistência. Não raro, fora o cristão cooptado a desistir das próprias armas de sua seriedade profissional, sob as juras de vantagens, alhures, mais imediatas nos negócios. Jamais abdicou do sério. Por vezes, presenciei moções que lhe foram feitas, visando tratativas supostamente vantajosas, mas eram então rebatidas com um curto e respeitoso: “Não, obrigado, isso não me interessa…”  

Lembro dessa época, em metáfora cristã com os dias atuais, quando se vive mais uma Páscoa. Mesmo porque o Cristo cênico de hoje já não é igual àquele de outrora, que era cinematografado em preto e branco, andando “ligeirinho” na velocidade de 16 quadros por segundo, sem voz reverberante. Imagem que ainda persiste, sobretudo na lembrança de “cinemistas” como eu, guardião de filmes daquela época. Os “Cristos” de hoje se mostram formosos e coloridos, de cabelos loiros, bigodes e barbas feitas ao melhor estilo do clã hollywoodiano. A aura visual que hoje se apresenta, claro, não terá sido e nem poderia ser aquela de décadas passadas. A pós-modernidade nos tem deixado “ressacas visuais” constantes, fazendo-nos valorizar ainda mais os tempos idos.    Mas, à guisa de conclusão, o “cristão exibidor”, acima citado, sempre foi e continua sendo o meu saudoso pai Severino Alexandre dos Santos, Patrono da Cadeira 5 da nossa Academia Paraibana de Cinema (APC). Pioneiro do cinema paraibano, quando esse ainda não tinha aprendido a “falar”. E a cópia do filme “Vida, Paixão e Morte de Jesus Cristo”, de 1903, em preto e branco, 16mm, com o Cristo andando ligeirinho, que sempre exibíamos nesta época, guardo comigo como um “relicário”. Uma película que me faz lembrar da saga bendita de “Seu Severino do cinema” (como era bem conhecido em Santa Rita), e suas agitadas sextas-feiras santas. Memória que continua venerada por mim e pelos quantos com ele conviveram cinematograficamente.


A atriz paraibana Zezita Matos, Ocupante da Cadeira 06 da Academia Paraibana de Cinema, estará participando de uma performance poética, no segundo sábado (13) de abril, às 16:30h, na Sede da Editora Sanhauá, Av. Desembargador Souto Maior, 66, Centro de João Pessoa. Evento para simples convidados

Molduras Poéticas é um projeto que surgiu com o propósito de reunir diferentes gerações amantes de poesia e música. Objetiva ainda compartilhar interesse pela literatura poética, contribuindo para divulgação dos autores e o reconhecimento dos autores apresentados. Parabéns prá nossa confrade!