
O lançamento da Parte-2 do seriado “Lupin”, que vinha sendo aguardado há alguns meses, se confirmou nesse último dia 6, findando a expectativa dos quantos assistiram à primeira parte. Produção francesa da Netflix, com direção conjunta de Ludovic Bernard, Marcela Said e Louis Laterrier, a série deveras marcou nos primeiros capítulos um grande interesse dos telespectadores. Não é uma excelente realização, mas diverte e muito as estripulias do hábil golpista. É certa a afirmação de que, em função dos tempos de hoje – quando o preconceito é uma prática comum, sobretudo de cor, e vem assolando como mais uma forte pandemia –, o seriado “Lupin”, cujo personagem Assane Diop (um expert e elegante tricheur parisiense) e interpretado pelo ator negro francês Omar Sy, seria um balde de água fria nas pretensões daqueles que usam da discriminação racial como status social.
Pelos registros que se conhece, o romance francês de Maurice Leblanc sempre foi adaptado com protagonistas não negros, tipicamente franceses, e utilizando de uma atmosfera cênica de época, digamos inglesa; beirando à lá Sherlock Holmes. Aliás, em razão dessa semelhança, o personagem de Arsène Lupin é sempre visto como uma espécie de “ladrão de casaca”, aquele bem vestido e ardiloso que vai deixando com o tempo transmudar-se em detective. Por isso mesmo, já existem especulações totalmente equivocadas na rede – acredito serem spoilers –, de que Assane Diop (“Lupin”) quando foge de Paris, perseguido pela polícia, vai morar em Londres, e lá se encontra com Sherlock Holmes, para novas aventuras. Mas como, se Holmes sempre foi um personagem londrino do final do século XIX?
Nas versões anteriores, não seriada, mas em filme, como a realizada em 2004 e dirigida por Jean-Paul Salomé, por exemplo, Lupin é de família branca, numa atmosfera de início do século XX, com base aristocrático-religiosa bem forte, típica aos padrões da época. Na versão atual, a história se passa na Paris de hoje, fazendo ainda da tecnologia midiática e sofisticada uma arma poderosa contra as ações de delinquência na atual sociedade.
Um dado curioso permanece como narrativa, em “Lupin”. Aliás, vem de encontro ao próprio romance de Leblanc, que seria o conflito existente entre o obstinado vingador da morte de seu pai e sua consciência de não-homicida nas ações violentas do próprio Diop. A exemplo dos capítulos anteriores, as ações do personagem Assane Diop se concentram na vingança a um rico empresário, responsável pelo assassinato de seu pai. O influente Pellegrini é dono de uma fundação beneficente, mas que serve na lavagem de dinheiro junto aos outros comparsas dos cenários político, policial e governista. O que dificulta ainda mais a Diop de se livrar das acusações de roubos e homicídios que lhe são atribuídas. Mas o epílogo dessa vingança de Diop não poderia ser menos apoteótica, sendo justamente assistida e testemunhada pela aristocracia parisiense, em um dos renomados teatros de Paris. Quando de público, ele denuncia as falcatruas do patrocinador daquela noite de gala e responsável pelo assassinato de seu pai, mas é fortemente perseguido pelos policiais. E, mais uma vez, escapa do cerco, deslizando pelas águas do Sena em mais uma bela noite da Cidade Luz. Apesar de tratar de um tema sério, “Lupin” tem instantes hilários e deliciosos, o que faz do seriado cativante. Mesmo que a narrativa, às vezes, tropece no imponderável.
Correio das Artes lembra Jurandy Moura
O poeta e cineasta Jurandy Moura, integrante da Academia Paraibana de Cinema, está sendo lembrado na publicação deste domingo (27) da edição do Correio das Artes. A informação foi prestada esta semana à diretoria da APC pelo editor da revista de A União, o jornalista André Cananéa.
Jurandy Moura, que é patrono da cadeira 15 da APC (ocupada pelo ator paraibano Fernando Teixeira), teve participação ativa na cinematografia e na poesia paraibanas. Foi membro da Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba e realizador de alguns curtas, inclusive “Padre Zé Estende a Mão”.