Oportuno e recentemente, o suplemento Correio das Artes, do Jornal A União, nos trouxe um bem posto destaque, circunstancial e político, assinado por vários autores, sobre o estranho e infausto período que foi a Ditadura Militar no Brasil. Em especial, na Paraíba. Os fatos então narrados na revista incluíam as artes e a cultura de modo geral, que sofreram bastante com a perseguição de seus agentes, tanto produtores como divulgadores. Porém, o exibidor brasileiro de filmes e o cinema não foram citados. Apesar de serem aludidos, pela revista, numa tal “lista de Assuntos Proibidos” pela ditadura.
Como não deixaria de ser, a revista dá prioridade aos enlevos políticos, não muito aos segmentos culturais exercidos naquela época. Mas, apenas o teatro foi comtemplado nos relatos; e com justa razão. Mas, segmentos como música e cinema, igualmente cogentes ao período, não foram contemplados.
Ao concluir o meu recente livro, Menino de Cinema, editado pela Ideia (a ser lançado brevemente), autobiografia que traz a existência de um pioneiro exibidor paraibano, meu pai Severino Alexandre Santos, descrevo sobre o tormentoso momento vivido por ele à frente de suas empresas. Sobretudo, durante os dois primeiros anos do período repressivo. Notadamente, quando cinema passou a ser também um dos principais alvos da censura militar, em razão da sua boa aceitação. Sobre tais fatos, relato em Menino de Cinema:
Era o primeiro dia do mês de abril de 1964.
Sob forte turbulência, o País acordara completamente tomado pelo que se dizia “Regime de Força”. O povo brasileiro estava agora sob a alça de mira dos militares. Entrementes, eles haviam assumido o Poder da República com um golpe, deflagrando então o início dos “anos de chumbo”. Um tempo para ser jamais esquecido em toda a história brasileira.
Mesmo reconhecido como uma pessoa nada entusiasmada com política, Severino Alexandre, proprietário de salas de exibição em Santa Rita, acabara de inaugurar o seu segundo cinema (Cine São João), no centro da cidade. A partir de então, temia pela família e suas empresas. E não estava enganado…
Dia antes, Severino conseguira entrar pela manhã na cidade de Recife, como fazia toda semana, indo às distribuidoras de filmes, mas o Estado de Sítio, que logo se implantou, o impedira de sair. A partir da tarde daquele 31 de março, ninguém entrava, ninguém saía de parte alguma. Só com muitas referências e indicações foi possível se passar pelos bloqueios militares das estradas. Mesmo assim, ônibus e carros que conseguiam superar as inúmeras barricadas, eram minuciosamente revistados na entrada e saída da cidade de Olinda, pelos comandos do Exército. “Uma verdadeira operação de guerra!” Nos contara meu pai no dia seguinte de sua vinda de Recife.
Ainda preocupado com a situação vivida naquele dia, Severino ouvira dizer que colunas militares motorizadas dos quartéis de Olinda e João Pessoa rondavam a zona da Mata e as fronteiras dos dois estados, procurando os “comunistas”. E que, de todo o Nordeste, o Recife estava sediando uma ação antigovernista por militares, que queriam ocupar o Palácio das Princesas e depor o governador Miguel Arraes, de Pernambuco. (continua)
APC: CONVOCAÇÃO
A presidência da Academia Paraibana de Cinema, cumprindo normas estatutárias, convoca sua diretoria para reunião mensal, na próxima quarta-feira, dia 17, às 9 horas da manhã, no âmbito do Cine Mirabeau, no bairro do Bessa, em João Pessoa.
O professor João de Lima Gomes, presidente da entidade, espera contar com a presença de toda sua Diretoria e Conselho Fiscal, além de associados, ao cumprimento de pauta mensal, sobre as ações que estão sendo realizadas e as que devem ser efetivadas doravante.