De “porta de cinema” à diligente projecionista

Foto: Projecionista Rubens Moreira foi sempre dedicado ao cinema.

Moleque de porta de cinema, como se costumava dizer, assim era ele. Com as revistinhas de super-herói nas mãos, ia de um lado a outro da portaria do cinema de meu pai Severino Alexandre, buscando alguns parceiros para troca de figurinhas de seus álbuns com estrelas hollywoodianas. Quando não, com um caderninho de fotogramas de filmes que antes recebera dos nossos projecionistas Manoel e Alonso, após a revisão que eles faziam dos filmes a serem exibidos.

Morando na mesma rua do Cine São João, um pouco mais próximo à Praça Getúlio Vargas, em Santa Rita, todas as noites, invariavelmente, o jovem costumava estar na portaria do nosso cinema, buscando conseguir o dinheiro para compra do ingresso em nossa sala de projeção. Sempre calmo, mas observador, meu pai assistia à “saga” daquele jovem todas as noites.

O tempo passou, mas a situação era a mesma, fazendo com que o dono do cinema tomasse uma atitude de apoio àquele aficionado por cinema. Certa noite, foi então que meu pai o chamou e perguntou: “Jovem, como é o seu nome?” Sempre alegre, ele se identificou como sendo Rubens Moreira e que morava alí perto do cinema. Curioso fiquei sobre a abordagem de interesse de meu pai ao estranho. Mas, a esperteza de Rubens já o havia sensibilizado. Assim foi Severino Alexandre, um estoico e artesão do cinema.

Aquela era época de celebrações de mais uma Semana Santa, ficávamos todos nós em alerta e eufóricos com o movimento das multidões na porta do cinema. Longas filas de espera se formavam entre uma sessão e outra, numa espécie de extensão da Procissão do Senhor Morto, que, horas antes, havia passado bem em frente ao novo cinema São João.

Passaram-se os tempos. E mais uma intensa movimentação dessa época estaria Severino controlando tudo de perto. Até da cabine de projeção, onde, apostos, os projecionistas Assis e Messias aguardavam, ansiosos, o sinal para o início da sessão de “A Paixão de Cristo”, com o Cristo andando “ligeirinho”, no tradicional 16-QS. Com eficiência, todos os nossos “apóstolos” da projeção cinematográfica se enlevavam com a anual e repetida experiência especular.

Agora já fazendo parte da equipe de projeção, formalmente engajado na empresa, anteriormente assumido como “lanterninha” – cargo esse que tão bem representou na recente produção audiovisual Poltrona Rasgada (2021), sob direção de Alex Santos e Manoel Jaime Xavier – Rubens Moreira passa à condição de dedicado projecionista do nosso cinema.

Em novembro deste ano de 2022, a triste notícia de que o parceiro de tantas sagas cinematográficas, Rubens Moreira de Oliveira, nascido em 24 de setembro de 1946, depois de “lanterninha”, abnegado projecionista e amigo nosso de tantos anos, falecera em um dos hospitais desta Capital. Notícia que nos foi dada por uma outra parceira e querida amiga, Glorinha, igualmente filha de um dos pioneiros exibidores de filmes em Bayeux, na Paraíba. Àquele amigo Rubens, que nos deu em vida tão bons “protagonismos”, também, representando-os inclusive em nosso Poltrona Rasgada, os nossos aplausos e reais sentimentos de saudades.


APC reúne associados no Cine Mirabeau

Academia Paraibana de Cinema reuniu seus associados na quarta-feira passada, no Cine Mirabeau do bairro do Bessa, em João Pessoa, para celebrar o Dia Mundial do Cinema. O encontro contou com a participação de um bom número de integrantes da APC, para uma homenagem ao escritor e jornalista Wills Leal. Na ocasião foram exibidos dois curtas audiovisuais, um sobre Wills (Mural do Cinema Paraibano), e outro com a participação da presidente da APC e atriz Zezita Matos.

Fez parte também das celebrações do Dia Mundial do Cinema, a Revista Correio das Artes, com sua publicação no domingo anterior, com divulgação dos 14 anos de fundação da APC, com artigos de Alex Santos e João Batista de Brito, integrantes da Academia Paraibana de Cinema.