
O cinema tem gerado, ao longo do tempo, pelo que tenho observado, um alarmante entendimento de que o fantástico da telinha possa realmente acontecer no mundo real. Não fosse assim, o virtual dessa arte não teria a magia que tem. Contudo, parte do seu mito foi com o tempo transformado em “verdades” cruéis e não menos danosas aos padrões de civilidade desejados ao mundo de hoje.
Se é verdade que os artifícios “indicados” pelo cinema, desde os tempos do filme “mudo”, como propostas inovadoras ao contar suas estórias, serviu de prenúncio à realidade de hoje, isso se deve à importância de alguns filmes emblemáticos. Quem jamais pode olvidar “Metropolis” (1927), de Fritz Lang, representante do expressionismo alemão? Foi uma das obras a influenciar multidões, até cooptando mentes a novas experiências tecnológicas. Algumas delas em benefício da própria humanidade, como a construção civil. Mas isso, convenhamos, durante anos trouxe (ainda representa) um preço muito alto.
Diante de tais fatos, um paralelo inusitado se nos apresenta agora, entre a “virtualidade” que sempre se mostrou no cinema e o “barbarismo” de uma realidade cênica em nossos dias. Exemplo real é o da banalização do crime imposta às instituições sociais, também ao ser humano. “Heróis” e bandidos de hoje (não mais de cinema) conviverem lado a lado; pior, de mãos dadas e o Estado mostrando-os pela mídia, sobretudo eletrônica, como assunto de primeira ordem, sublimando aquele algo que transcende à própria aventura cinematográfica.
Se, no passado, os “chefões mafiosos” foram sempre temidos e exaltados em suas ordens, mas banalizados como “mocinhos” e super-heróis em cada filme, atualmente as atitudes e ações desses mesmos chefões são sublimadas por um tipo de pirotecnia propagandística de poder, pelo próprio aparato policial. Tem prevalecido a “carnavalização” do fato grotesco; por uma mídia, em detrimento do bem-estar da sociedade e da seriedade na gestão pública.
Inadmissível, os cortejos terrestres, algumas vezes aéreos, financiados com dinheiro público, transportando marginais e chefões perigosos de uma localidade a outra do país, para audiências de Júri. Situações apavorantes para as populações como um todo, em razão de possíveis escaramuças a esses trajetos. Hoje, as audiências via Internet não seriam a solução adequada, mais definitiva e mais econômicas para ações dessa natureza? Em verdade, nem as famosas “tropas de elite” e seus berrantes comboios têm conseguido ganhar o “status” cinematográfico, tão pretendido perante a sociedade, hoje sofrida e deveras alarmada com tanta “carnavalização”. Por fim, que a mídia eletrônica, sobretudo em seus horários noticiosos e considerados mais “comerciais”, o que é fato notório e muito preocupante, busque menos apologia e fanfarronice em seus noticiários sobre o trágico que tem sido o cotidiano em nossas cidades!
Documentário homenageia Laís Aderne
Com depoimentos recentemente gravados no campus da UFPB, em João Pessoa, o docente João de Lima Gomes, presidente da Academia Paraibana de Cinema, e os professores aposentados Rosa Trigueiro, Oswaldo Trigueiro e Florismar Melo, deram início ao documentário “Feira de Trocas”.
Produção e direção de Pierre Aderne, brasileiro radicado em Portugal, “Feira de Trocas” tem como base a vida e obra da professora Laís Aderne, que nos anos de 1970 integrou a equipe do então reitor Lynaldo Cavalcanti, na instalação do curso de Educação Artística da UFPB, antes de se transferir à Brasília.