Em cinema, tudo depende do seu ângulo de visão

Cena Do Zepelim Em Americo – Falcao Peregrino De Alex Santos
Foto: Cena do Zepelim, em “Américo – Falcão Peregrino”, de Alex Santos.

Essa é uma época do ano em que sempre me dei ao privilégio estético, visualmente cinematográfico, tendo como foco a distinta cidade “Parahyba”. Então, assisto a filmes de conteúdos bem paraibanos e ainda releio autores sobre nossas origens, como o historiador Horário de Almeida, sobretudo em seu período republicano.

Nos tempos atuais, é curioso observar uma cidade em que vivemos, na sua grande parte alterada em seus valores e costumes. Consequência de intervenções e civilidades tão bem analisadas pelo historiador José Octávio de Arruda Melo, quando versa sobre Walfredo Rodriguez e o urbanismo da cidade de João Pessoa, em capítulo do livro/seminário por mim organizado, para celebrar o importante cineasta paraibano e a urbe de seus sonhos.

Mais ainda, refletindo-se sobre um “itinerário lírico”, da lavra do nosso poeta Jomar Souto, ou relendo obras como o “Roteiro Sentimental de Uma Cidade”, do próprio Walfredo Rodriguez, é possível repensarmos mais e precisamente sobre a urbanidade da qual terá sido demudada uma simples e bela província, hoje forjada em metrópole (?), com todos aqueles condizentes de modernidade. 

Olhando a Cidade de João Pessoa pela ótica do cinema, ficam ainda mais contundentes tais mudanças a um restauro cenográfico, visualmente cogente a possíveis representações cinematográficas. Isso, levando-se em conta um panorama politicamente social e cultural importante, gerando situações de completa incerteza ao se tentar resgatar a nossa história aos dias de atuais.

No cinema, em sendo uma arte onde a imagem seria imperante, abdicar do estético, da forma, é praticamente impossível. Porque luzes e sombras são elementos que predominam na sua essência, na sua informação e linguagem narrativas. E como em cinematografia tudo é uma questão de ponto de vista, de ângulo, de posicionamento de câmera… E com base nessa realidade, ainda é possível, com reservas, se construir verdadeiramente alguns fatos do nosso passado histórico.

Em duas ou três produções nossas, com algumas locações no centro da cidade de João Pessoa – “Américo – Falcão Peregrino” é uma delas –, tivemos poucas opções ambientais de épocas e cenográficas, que nos remetessem ao final dos anos quarenta e início de cinquenta. Esse foi o nosso grande desafio. Mas conseguimos!

Agora, numa leitura mais contemplativa, objetivando um “filmic plot” (enredo cinematográfico) sobre a nossa urbe, destacaria uma crônica bem oportuna, autoral de “prata da casa”, e que se presta muito bem à visualização paisagística local: “Descobrindo a cidade de João Pessoa” de Manoel Jaime Xavier Filho. Uma leitura que se faz cogente àqueles que desejem mergulhar fundo no passado urbano visual da nossa Capital. E mesmo saudosamente, haveremos de encontrar no livro de Jaime o verdadeiro sentido do que seja a expressão “como era verde o meu vale”… Aliás, esse foi um dos clássicos de John Ford para o cinema americano de todos os tempos. Estão lembrados? Por fim, Parabéns à nossa Capital, em seus 439 anos!


Membro da Academia Paraibana de Cinema, o professor da UFPB Pedro Nunes Filho, autor de publicações sobre Comunicação Social, acaba de ser homenageado no pelo Festival de Cinema de Catolé do Rocha, Alto Sertão da Paraíba. As honras foram em razão de seu trabalho na área do audiovisual paraibano, sobretudo no plano acadêmico.

Na APC, Pedro Nunes Filho é Ocupante da Cadeira 28, que tem como seu Patrono o cineasta paraibano Jureny Machado Bittencourt, que fez história na cinematografia paraibana e nordestina. Um de seus filmes mais premiados foi Parahyba (1985),realizado para celebrar o Quarto Centenário da Paraíba.