Anos 30: Comoção, Interventoria e Cinema Falado

Ex Presidente Joao Pessoa Cavalcanti De Albuquerque
Foto: Ex-presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.

A data, 26 de julho de 1930. A sociedade paraibana estava ansiosa pelo que pudesse acontecer, diante da efervescência política de então. O cinema Rio Branco, naquele sábado fatídico, como que em presságio burlesco, exibia a comédia da Metro-Goldwyn-Mayer, “Coleguinha Leal”, com os atores John McBrown e Marion Davies. Naquele mesmo dia, notícias vindas do Recife, estado vizinho, davam conta de um trágico acontecimento na Confeitaria Glória, centro da capital pernambucana, onde fora assassinada uma das figuras públicas que jamais foi esquecida pelos paraibanos. O entusiasmo da grande maioria do público para com o cinema, naquele dia, tornar-se-ia contido, em consequência da tragédia que enlutara a todos. O político João Dantas, assassino do Presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, passaria igualmente à História oficial da então Parahyba.  

Um mês depois do fato, o cinema Rio Branco exibia, de forma contínua o documentário intitulado “Os Funerais do Presidente João Pessoa”, numa iniciativa de produção da Cia. Botelho Filmes. Anteriormente, o pioneiro do cinema paraibano, Walfredo Rodriguez, haveria de deixar a sua marca em vivo celuloide, reportando em preto & branco a euforia e o carinho que a comunidade parahybana devotara ao seu governador. Agora, os momentos de comoção, até idolatria do seu povo, muita dor e revolta foram traduzidos em lágrimas. O cinema registrara tudo. Imprimira para nossa memória de arte e política, a verdadeira face de um povo para com seu o líder maior.

A alegria de um povo, em rumorosas aplausos nas ruas, ao seguir o seu presidente na sacada do Palácio da Redenção, quando dele se aproximavam seus admiradores. Agora, em comoção incontrolada, pela perda definitiva do seu ídolo. Walfredo, então, soubera como ninguém captar esses momentos, trazendo aos nossos dias um documentário de grande valor histórico, não menos irretocável, “Reminiscências de 30”. Um verdadeiro tributo “afetivo” àquele que soube, inclusive, quando em vida, lhe admirar na arte de filmar.

Passada a comoção popular com a morte de João Pessoa, a Parahyba passaria imediatamente ao comando do Vice-Presidente Álvaro de Carvalho, até meados de outubro daquele mesmo ano, quando do golpe nacional que derrubaria o Presidente da República Washington Luiz, no Rio de Janeiro, subindo ao Palácio do Catete o novo presidente Getúlio Vargas.                                                         

Em consequência, a Capital Parahyba, agora denominada “João Pessoa”, terá como Interventor Federal Antenor Navarro, marcando uma nova etapa na história do nosso cinema. No já existente Theatro Santa Rosa, o então novo governo propiciaria a inauguração de uma sala de projeção condigna, com a exibição de um dos primeiros filmes “falados”. Fato esse que foi amplamente divulgado pela imprensa local e de fora do estado, tendo como seu principal porta-voz o jornal A União, órgão oficial do Governo do Estado. Os fatos aqui narrados têm por base o capítulo “História e reflexões de um Cinema Novo”, do livro “Cinema e Televisão: Uma relação antropofágica” (de nossa Tese de Metrado na UnB), trazendo relatos importantes como os que, havia quase um século, incidiram sobre a Parahyba daqueles tempos.


Academia Paraibana de Cinema (APC) terá Reunião Ordinária, mensal, na segunda semana do próximo mês de agosto. Como vem acontecendo, os encontros estão sendo realizados nas dependências do Cine Mirabeau, bairro do Bessa, Aeroclube, em João Pessoa.

Com pauta a ser ainda confirmada, a presidência da APC dever priorizar às discussões sobre acordos que estão sendo mantidos com outras entidades de cultura cinematográfica do interior do estado. São tratativas que buscam apoios da APC, no que se refere à adesão da Academia Paraibana de Cinema em seus programas.