Cinema que sempre nos deu boas referências

Foto: Escritor José Américo de Almeida, valorosa contribuição ao cinema paraibano.

A cada início de ano que chega, dentre as muitas avaliações pessoais que faço, em sendo jornalista com foco na cultura cinematográfica, sempre busco nas minhas referências aquele algo de comparativo ao status quo atual das coisas; não menos, de um cinema que sempre vivi. E aqui, não me situaria como meramente saudosista, ou coisa parecida, mas ter como boas alusões aquilo que deu certo e que, hoje, deve nos servir de balizamento às nossas próximas realizações.

Como “proeza” local, e não só essas, citaria alguns filmes baseados em textos literários importantes, como Menino de Engenho e Fogo Morto, ambos de José Lins do Rêgo, dirigidos, respectivamente, por Walter Lima Junior e  Marcos Farias; Fogo – O Salário da Morte, com direção de Linduarte Noronha, visto como um dos últimos filmes realizados em preto&branco, no país; do faustoso romance “A Bagaceira” de José Américo de Almeida, travestido no cinema para Soledade, com direção de Paulo Thiago; Parahyba Mulher Macho de Tizuka Yamazaki, a partir de texto do paraibano José Joffily sobre  Anayde Beiriz, durante os conturbados anos trinta. Além de muitas outras produções sobre conteúdos literários genuinamente paraibanos.  

Hoje, não sem razão, vejo a nossa Academia Paraibana de Cinema (APC) como uma verdadeira guardiã dessas referências; quer se queira ou não. E vivendo esse novo momento inusitado do cinema paraibano, sob as distintas inovações/influências, sobretudo tecnológicas, desejo que sua gestão atual tenha o compromisso ainda maior, em resgatar eventos que deram origem à sua real criação. Como é caso do Serviço de Cinema Educativo da Paraíba, do saudoso João Córdula, e Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba. Notando ainda, no plano realizador, o simbólico documentário “Aruanda”, de 1960, do sempre lembrado Linduarte Noronha, também patrono da APC.

Todos esses feitos, de mais de meio século, devem ser razões plausíveis a nortear as ações da APC; e não apenas em cinema, mas por sua literatura. Motivações que se forjaram em estudos doutrinados e implementados pelo cineclubismo de havia anos, pelas verdadeiras sessões de Cinema de Arte, em algumas salas da nossa Capital. E as motivações e influências seriam muitas, e sempre foram marcantes e notórias, quando revemos a História do Cinema (da/na) Paraíba, como bem rotulou Wills Leal. Quer seja pela literatura de nossos versados “escritores de província”, quer seja pelas publicações diárias nos jornais, órgãos que sempre abriram espaços às nossas elucubrações de verdadeiros “cinemistas” e guardiões da saga incansável em nosso cinema. Lembremos que, sem dúvida, nossa “fonte” terá sido as muitas leituras do Cahiers du Cinéma, numa espécie de “escola europeia de cinema” por nós assumida, e sempre nos abrindo espaços a Aliança Francesa, de Ramondot, no Parque Solon de Lucena (Lagoa). Isso, durante a efervescência dos anos cinquenta/sessenta, através de suas publicações vindas de Paris. Espécie de bíblia que nos motivou a fazer cinema na Paraíba. Poucos da minha geração buscou eximir-se do privilégio de aprender o francês, criando-se, então, uma espécie de clube “les amis des Cahiers du Cinéma”.


APC se solidariza com a FCJA

A Academia Paraibana de Cinema se solidariza à decisão da atual gestão da Fundação Casa de José Américo, em estender as suas atividades à cidade de Areia, no brejo da Paraíba, terra do escritor e homem público José Américo de Almeida. O novo núcleo da FCJA será instalado, conforme está sendo anunciado, no histórico Casarão José Rufino, centro da cidade, onde será instalada uma biblioteca, também acontecerão atividades artísticas como palestras e exposições de artes.

O escritor José Américo de Almeida é um dos membros da APC, com a titulação de Sócio Benemérito, desde que a Academia Paraibana de Cinema foi criada em 2008.