A arte pictórica brasileira no filme “Amélie Poulain”

Foto: “A atriz Audrey Tautou no papel de Amélie Poulain.”

As excentricidades existem no comportamento humano, como também as atitudes obcecadas e até doentias, muitas vezes para alguém atingir os seus objetivos. Objetivos esses inexplicáveis, até de solidariedade. E isso verificamos no filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (Le Fabuleux Destin d´Amélie Poulain). Comédia romântica diferenciada, dirigida pelo francês Jean-Pierre Jeunet, com a expressiva atriz Audrey Tautou no papel título. A música do filme, de Yann Tiersen, em belos solos de piano e acordeom é um verdadeiro afago.

O filme não é produção recente. Está fazendo seus redondinhos vinte anos agora em abril, mas é uma obra que gosto muito e revejo sempre quando posso, como agora nessa minha incômoda (embora vacinada) clausura involuntária. Também, porque a narrativa do filme é digna de atenção pelo diferenciado que representa para o cinema, sobretudo o francês. São sutilezas humanas tratadas em gestos, diria quase infantis, de alguns personagens adultos, como é o caso da própria Amélie. Por vezes, ela busca “dialogar” com a Câmera (espectador), numa linguagem até ilustrada com emojis, tentando viralizar em cumplicidade com quem a assiste. E veja-se, por imediato, a atualidade da linguagem: emojis é coisa da Internet atual.

Poderia iniciar dizendo que o argumento é dos mais simples, tratando do cotidiano de uma garotinha que é reprimida o tempo todo pela mãe, mulher excêntrica que morre no início do filme. Anos depois, agora uma jovem e tímida, Amélie sai de casa, herdando algumas manias de infância, deixando o pai com suas lembranças e desejos incubados de aventuras. Ela vai morar sozinha num dos bairros parisienses, Montmartre, uma das regiões culturais singulares da cidade. Em suas idas e vindas diárias à gare de Paris, onde pega o trem para o trabalho numa tabacaria, Amélie conhece um jovem fissurado em apanhar no chão restos de fotos deixadas pelas pessoas das máquinas ali existentes.  

Uma crônica simples do cotidiano, com cenas filmadas próximo à Basílica de Sacré Cœur, e que encanta pela simplicidade e beleza da personagem-título na história. Mas o que nos surpreende é a fotografia de cores fortes, sobretudo nas tonalidades verde/vermelha, reforçando substancialmente um tipo de informação figurativista do universo de Amélie e de seus contracenados. E essas cores não são gratuitas, porquanto simulam o emocional da jovem, em certos momentos, e tem uma origem que nos parece bem clara, que é a relação que existe entre a direção do filme e o artista plástico brasileiro Juarez Machado. O próprio rosto de Amélie, com acentuados olhos negros, houve de refletir uma das pinturas bem conhecidas do artista, que além de pintor era cenógrafo aqui no Brasil.  

A propósito, a pintura do artista brasileiro foi bem recebida em Paris, na individual que realizou na Galerie Debret, no final dos anos 80 e início de 1990, portanto, anos antes da realização do filme. Para a crítica especializada, à época, as cores refletiam as aspirações do próprio artista. Depois, então repassadas à personagem pelo fotógrafo Bruno Delbonnel e diretores de arte Mathieu Junot e Wolker Schafer, sob um roteiro bem escritor por Guillaume Laurant.   Mesmo tendo concorrido ao Globo de Ouro e Oscar 2001 e não conseguindo premiação, isso só foi possível nos Festivais Internacionais de Edimburgo e de Toronto, naquele mesmo ano.


APC agradece ao “Tabajara em Revista”

Membros da Academia Paraibana de Cinema, os professores Alex Santos e Manoel Jaime Xavier foram convidados pelos apresentadores do programa “Tabajara em Revista”, o músico Adeildo Vieira e a cantora Cíntia Peromnia, para participarem do segmento “De olho na Tela”, que vai sempre ao ar nas terças e quintas-feiras. Adeildo foi autor da bela trilha sonora do filme dirigido por Alex, “Américo – Falcão Peregrino”.

O programa, que é apresentado sempre às 14 horas, traça um relato das pessoas ligadas ao cinema paraibano, falando de suas experiências com a Sétima Arte, bem como, sobre os filmes (ou filme) que marcaram a sua vida. Em nome dos convidados e da própria APC, a diretoria da entidade agradece.