Ciência e religião: a discórdia que nunca acaba

Foto: Ator Esben Smed, em Um Homem de Sorte, do dinamarquês Bille August.

Acuidade e vida de Henrik Pontoppidan, um respeitado escritor realista dinamarquês do século XIX, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1917, está no argumento do filme Um Homem de Sorte (Lykke-Per), dirigido por Bille August, também diretor do notável Trem Noturno para Lisboa, que traz excelente atuação do inglês Jeremy Irons.

Um Homem de Sorte é um filme de 2018, bastante longo em razão do livro do qual foi adaptado, relatando grande parte da história de Pontoppidan junto à sua família. Filho de clérigo da comunidade Jutlândia, pertencente a uma antiga estirpe de vigários e escritores. Na vida real, conforme relata sua biografia, Pontoppidan desistiu de sua formação como engenheiro, trabalhou como professor primário, tendo posteriormente se dedicado ao jornalismo independente e à escrita, com sua estreia literária em 1881.

Mas o filme sobre ele tem um questionamento pouco diferente da vida do autor de algumas boas obras – uma delas, Det forjættede Land (A Terra Prometida), de 1891 –, quando analisa socialmente a época em que viveu o laureado escritor de mais três romances, que seriam considerados como as principais obras de Pontoppidan. Um desses romances, inclusive, o que serve de tema autobiográfico para o filme do também dinamarquês, Bille August.

Sob um enfoque socialmente mais abrangente, o filme trata de uma fase de mudanças da Dinamarca, na segunda metade do século XIX, com expansão da publicação de livros, trazendo temas sobre costumes religiosos e privados, quase sempre sob o rígido controle patriarcal das classes ascendentes. E aí está o mote principal de Um Homem de Sorte. Originalmente, Lykke-Per.

Mas a questão principal do filme se resume numa única concepção, que é o confronto entre Ciência e fé cristã. No caso, uma família extremamente religiosa, cujo progenitor, clérigo, impõe domínio aos seus filhos, tentando frustrar suas aspirações maiores de estudo e de conhecimento fora do lugar onde residem. Há então o conflito entre pai e filho, não aceitando que o jovem Per Sidenius (Esben Smed), aprovado em Engenharia na Escola Politécnica de Copenhague, siga seu destino. Essa atitude repressora do pai faz com que o filho Per se rebele, saindo de casa para morar em Copenhague.

Na grande cidade, como era natural acontecer naquela época de fortes preconceitos, o jovem é rejeitado por sua origem do campo, não ter fortunas, mais ainda, por ter notório talento na criação de seu projeto arquitetônico de iluminação, mas que é “incompatível para sua idade”. – Essa é a opinião dos seus muitos professores, considerados cientistas da época.

Vivendo com uma família rica, que abraça o jovem em razão das ideias inovadoras que defende, ele passa a coexistir com uma realidade que jamais seria a de sua origem. E aí está o seu conflito pessoal, exacerbando ainda mais a sua rejeição às atitudes do pai, agora falecido, mas que sempre tentou, sob uma relíquia de família (relógio de algibeira), prender a atenção do filho às suas origens e tradições. A época é de uma Dinamarca de renovação política, social e econômica. Um filme inteligente como narrativa e que deve ser visto…


APC parabeniza a vídeo maker Iasmin Soares

A Academia Paraibana de Cinema, através de sua presidente, atriz Zezita Matos, e de toda sua diretoria, se congratula com a jovem Iasmin Soares, vídeo maker paraibana, pelo prêmio recebido, em São Paulo, da Associação Brasileira de Cinema (ABC).

Iasmin, que teve recente participação como apresentadora de programa de televisão, acaba de ganhar o prêmio de Melhor Diretora de Fotografia da ABC, pelo seu curta-metragem Afluências. A obra traz os depoimentos de mulheres indígenas, tendo sido selecionado também pelo FeCCI, em Brasília.