Glauber Rocha e ditadura na vizinha cidade de Santa Rita

Foto: “Ator Othon Bastos no papel de Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol.”

Domingo passado fez 40 anos que faleceu o cineasta baiano Glauber Rocha. Uma das maiores expressões de vanguarda do cinema brasileiro de todos os tempos. Controvertido realizador que dizia o que pensava, muitas vezes irresponsavelmente, mas com a firmeza de convicções sociológicas, inclusive manifestadas em alguns de seus próprios filmes. Daí, a repressão que sofreu durante a ditadura militar de 1964.

Mesmo visado como “subversivo” pelas Forças Armadas, um ano antes já tinha realizado “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963), posteriormente, “Terra em Transe”, filmes que, basicamente, reacenderam as perseguições dos militares sobre ele. Resistiu por sete anos aqui no Brasil, exilando-se na Europa, passando a residir em Portugal.

O domingo que passou também me lembra um fato que aconteceu, não havia 40 anos atrás, mas nessa mesma semana de agosto de 1966, portanto há 55 anos, na vizinha Santa Rita. O palco dos acontecimentos foi o cinema São João, que pertencia ao meu pai, no centro da cidade.

Da manhã daquele domingo, lembro como se fosse hoje da expressão que continha um dos cartazes postados por mim na entrada principal do cinema, do filme de Glauber “Deus e o Diabo na Terra do Sol” – Um texto que eu havia extraído do monólogo do cangaceiro Corisco (Othon Bastos): “O homem só tem validade quando pega nas armas pra defender o destino. Não é com o rosário, não, satanás!”.

Pois bem, anunciávamos naquela manhã de agosto de 1966 a exibição do filme, dentro da programação do Cineclube Hitchcock, que funcionava, inclusive, numa sala de primeiro andar atrás da tela do nosso cinema, dando vistas para uma praça na Rua Coronel Domiciano.

Era uma manhã ensolarada de domingo, estávamos todos eufóricos e já acomodados na sala de projeção do cine São João. Nem bem havia iniciado a sessão, quando entram de repente dois fiscais fardados da Polícia Federal, de mandado em punho, e foram logo gritando:

Parem a sessão!

Um dos tais, de aparência rude, truculenta, indagou furiosamente:

Quem é o responsável por isso aqui?

Tremi nas bases. Meu pai não estava presente, e quem quer que fosse o responsável, a julgar pelos recentes ocorridos de prisão e arbitrariedades, naquele momento jamais se acusaria. Não era hora para atitudes heroicas.

Pois bem, o filme está confiscado. – Sentenciaram e foram logo subindo a escadaria rumo à cabine de projeção, onde se encontrava o operador Zé Alonso, a quem entregaram um papel dizendo para comparecer dia seguinte à Polícia Federal, em João Pessoa. Depois, juntaram as latas num saco e foram embora levando o filme. Decepção total de todos nós. Meros rapazolas e sonhadores cineclubistas, que sentimos o forte impacto daquele “golpe” às nossas pretensões culturais. No dia seguinte, cheio de receios fui parar na PF, que funcionava na Av. Marechal Deodoro da Fonseca, próximo à Praça da Independência.


APC: Dois registros acadêmicos

Recentemente, o pintor Flávio Tavares fez doação de sua tela, recém-concluída, Festa das Neves, à Fundação Espaço Cultural da Paraíba – Funesc. Por seu importante trabalho na arte pictórica paraibana, também por ser o criador da logomarca da APC, Flávio foi incluído nos quadros beneméritos da nossa academia.

O outro registro é sobre as homenagens que estão sendo prestadas ao escritor José Lins do Rego (Patrono da cadeira 44 da APC), pela Funjope do Município e pelo Governo do Estado, através de sua Empresa Paraibana de Comunicação e da Editora A União. Pelos feitos, o regozijo da Academia Paraibana de Cinema, em nome de sua presidente e atriz Zezita Matos.

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