Ao longo de todos esses anos de convivência, não foram poucas as vezes que trocamos “figurinhas” sobre a Cultura da Paraíba. E não seria agora que o amigo Zé Octávio de Arruda Mello ia me faltar, justamente na publicação do meu mais recente livro, Menino de Cinema, lançado na sexta-feira passada na Livraria do Luiz/Bessa. Mais ainda, quando publica artigo “memorável”, bem ao seu estilo, exaltando minha trajetória cultural a partir de minhas origens.
Usando de observações pessoais sobre a história do cinema paraibano – tema central do próprio livro, mesmo sendo uma autobiografia –, Zé Octávio afirma: “Menino de Cinema, editado pela Ideia de Magno Nicolau, se converte na terceira vertente de nossa cultura cinematográfica. A primeira é a dos criadores, liderados por Linduarte Noronha, com Aruanda (1959). A segunda, dos intérpretes, onde pontifica Wills Leal com “Cinema na Paraíba – Cinema da Paraíba” (2004). A terceira compreende os ativistas à Alex Santos”
Em seu altercado, como que tentando cobrir integralmente o conteúdo da obra, na qual também estaria inserido reiterando um de seus “mitos” (José Honório Rodrigues), o amigo Zé Octávio tenta abalizar a verdadeira saga que foram meus primeiros anos ao lado de meu pai, Severino Alexandre Santos, à frente dos nossos cinemas. Afirma ele: “Transitando pelos cinemas São Braz, Santa Cruz e São João (acrescentaria o Cinerama, no distrito de Várzea Nova), a dupla Seu Severino/Alex Santos, compassando Menino de Cinema, roteiriza o cotidiano da cidade dos canaviais. Nesta, desde a Segunda Guerra Mundial, de 1940 a 45, temos a urbanização santarritense, e suicídio de Getúlio Vargas, a vendagem dos gibis e revistas na porta dos cinemas, os repetidos filmes da Semana Santa, as festas de São João e Natal, as Copas do Mundo de 1958 e 62 e o Golpe Militar de 1964”.
Como se nota, o poder de síntese de Zé Octávio é surpreendente, curioso, até quando avalia o capítulo que trata da opressão que sofremos (eu e meu pai) durante a ditadura militar de 64: “Encontrando Seu Alexandre, no Recife, à procura de filme para seus cinemas, transfere o livro de Alex (Menino de Cinema) do lúdico para o ideológico, ou seja, do individual para o social”.
Essa análise do amigo historiador paraibano é pertinente, desde que, ao vivermos das “coisas de cinema”, na época, militávamos pelo cineclubismo local e exibíramos filmes como os de Glauber Rocha (“Deus e o diabo na terra do sol”). Fatos que nos levaram, sob ameaça, à Polícia Federal:
– Parem a sessão! O filme está confiscado! Agradecido, parceiro Zé Octávio, por mais esta saga em razão do nosso venerado “grupo”.
APC nos 20 anos do projeto DocTV
Organizada pelos professores João de Lima Gomes, Sheila Accioly e Ruy Rocha, com apoio do Decom/UFRN, do Nudoc/UFPB e do projeto Tela Livre, foram celebrados, na quarta-feira passada, os 20 anos do projeto DocTV. O evento teve o apoio da Academia Paraibana de Cinema, na pessoa de seu presidente, o prof. João de Lima Gomes.
Na ocasião foi discutida a relevância do projeto, que abriu caminhos para a produção de filmes independentes e seus espaços na TV Pública. Também, incentivando os novos realizadores, fortalecendo a formação, a produção e a distribuição, contribuindo, então, para o desenvolvimento do audiovisual e a formulação de outras políticas.