Escravos de uma mesma ambição

Ida Lupino E Glenn Ford Em Escravos Da Ambicao De Sylvan Simon E George Marshall
Foto: Ida Lupino e Glenn Ford em Escravos da Ambição, de Sylvan Simon e George Marshall.

Se é fato que as memórias retem tempo e lugar na vida das pessoas, nada mais justo que se entenda essa máxima como sendo também existencial sobre as “coisas de cinema”. Mais ainda, para quem continua a vivenciá-lo até hoje. Aforismo que pode ser aplicado, por exemplo, a quem viveu de perto a filmografia de um grande mito do cinema hollywoodiano: Glenn Ford. Ator que foi uma de suas referências às brincadeiras de “mocinhos” com amigos da mesma idade. E alguns filmes do galã exibidos no cinema de seu pai houve de interessar ainda mais aquele garoto, justamente numa fase de vida em que os aficionados da telona foram, de certa forma, “escravos” da mesma ambição – o Cinema. 

O fato é que existia sempre um ator, personagem-herói, uma sequência seguida de cenas, planos, ângulos e gestos interpretativos na mente de quem ama a arte de luz-e-sombras. E, curiosamente, a própria mise en scène do ator Glenn Ford era simulada pelos trejeitos de “encenação” do amigo Edwaldo do Nascimento, motivo inclusive de rizadagem entre seus coleguinhas. Mas, era verdadde que o amigo Edwaldo parecia mesmo com o ator Glen Ford, um dos ícones de Hollywood.

Romanticamente, numa das cenas projetadas, a lua caminhava lenta por detrás de alguns rochedos, até enquadrar-se perfeitamente numa fresta da grande pedra, projetando um cone de luz à distância, revelando justamente o local exato na montanha onde estaria enterrado o grande tesouro. Tanto nós espectadores, como o personagem Jacob Dutch Walz vivido por Glenn Ford, em Lust for Gold (aqui no Brasil o filme ganharia o título de “Escravos da Ambição”), naquele instante de enorme expectativa, sentíamo-nos escravos da mesma ambição.

Avaliadas as circunstâncias, lógico, hoje as propostas são outras. Nem se compara ao cinema dos tempos áureos. Época em que o quadro-a-quadro carecia de mãos artesanais, hábeis, para construí-lo. A razão apreciativa para um filme de hoje não é a mesma de ontem, quando a representação de antes não se confundia com o mero facciosismo atual ao lúdico sobre as coisas.

O Cinema, talvez mais que qualquer outro meio de expressão cultural e artística, na sua real essência, muito mais outrora do que hoje, soube sempre humanizar, sensibilizar e criar esperanças naqueles que sabem tirar-lhe o de melhor. Por vezes demudado humanística e tecnicamente, a arte-do-filme, hoje, ainda busca dimensionar com clareza o verdadeiro sentido do que seja “A maior diversão”. Como o é na visão daquele pequeno e interiorano exibidor. A vida é feita também de fantasias, como no próprio cinema. De ilusões e sonhos sublimados pelo écran luminoso das nossas esperanças.


A cinematografia paraibana está de luto pelo falecimento de Vladimir Carvalho, que ocupava a Cadeira 02 da Academia Paraibana de Cinema, cujo Patrono é o saudoso cineasta Walfredo Rodriguez. Nascido em Itabaiana, na Paraíba, Wladimir militou no cineclubismo e na crítica em João Pessoa, após breve participação em “Aruanda”, filme de Linduarte Noronha. Ele realizou alguns documentários, dentre eles “A Pedra da Riqueza” e “O País de São Saruê”. Vladimir morreu esta semana em Brasília, onde residia havia anos, pelo que a APC se solidariedade com seus familiares.