“Close”: Garotos de relação incompreendida

Garotos Leu E Remi Formam A Dupla De Amigos Em Close
Foto: Garotos Leu e Remi formam a dupla de amigos, em CLOSE.

Nem sempre as relações afetivas entre duas pessoas, mais próximas que sejam, do mesmo ou de sexo oposto, devem representar algo amoral para os demais da sociedade. Mais ainda, quando se trata do acolhimento entre duas crianças em idade escolar, como é o caso de Leo e Remi, de apenas doze, treze anos de idade, no filme Close (2022), roteirizado e dirigido por Lukas Dhont.

Assisti ao filme com bastante atenção, sobretudo, pelo clima familiar que envolve toda a narrativa. Os garotos Leo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav De Waele) são amigos bem íntimos e demonstram verdadeira inocência. Moram e brincam em casa e na escola, até por vezes dormem juntos. Não obstante a natureza normal e lúdica entre ambos, o filme procura explorar o caminho da intolerância moral, através de seus amigos de escola, censurando-os sobre uma situação que a história, realmente, não explica visual e narrativamente. E isso deixa o espectador com um ponto de indagação muito grande: Houve na verdade sexo entre os dois garotos, antes que um deles se suicidasse?

Aliás, muita coisa fica implícita em Close, dependendo de conjectura do espectador. De um “possível” caso amoroso entre Leo e Remi, e do suicídio praticado por um dos dois, quando são vítimas de bullying na escola. Fatos que, no filme, jamais são mostrados, mas insinuados, e que, a partir de então, Leo se sente culpado pela morte do amigo, como ele próprio se indaga: “Deve ter sido porque eu me afastei dele”. É como se chegássemos à conclusa de que, mais uma vez, é imposto ao espectador a obrigação de preencher um espaço em aberto na história dos dois garotos. Uma prática narrativa em todo o filme, como que nos obrigando a definir um final não mostrado pelo próprio Close.

Tecnicamente, destacaria no filme de Lukas Dhont a fotografia e Direção de Arte de Eve Martin, que são perfeitas. As atuações dos garotos são deveras convincentes, sobretudo, a de Leo é primorosa. As emoções do personagem, depois que perde o amigo tragicamente, chega a nos comover. Mesmo porque os sentimentos dos personagens-mirins e das mães dos garotos se mostram incontidos, em alguns instantes do filme. É uma obra que fala de preconceito numa idade de transformação de vida de um jovem, a adolescência, quando a sociedade impõe maiores cobranças. A rigor, um sério e belo filme, Close.  Agora, não muito pela semelhança do título – “Closes”, curta-metragem feito na Paraíba, lá pelos anos 1980, em Super-8, abordando a questão da homossexualidade entre jovens – o filme de Lukas Dhont me fez rever uma obra paraibana, De Gadanho a Closes, organizada por João de Lima Gomes e Pedro Nunes, confrades da APC. Livro esse em que sou citado pelos autores, como sendo “o primeiro a refletir sobre a produção superoitista (na Paraíba), pontuando a realização dos primeiros filmes em Super-8.” Avaliação essa, que fiz no meu primeiro livro, Cinema e Revisionismo, publicado em 1982.


No final do mês passado, o jornalista Hélder Moura, coordenador do “Sol das Letras”, procurou a diretoria da Academia Paraibana de Cinema, na pessoa de seu vice-presidente Mirabeau Dias, solicitando apoio para a criação de cineclube na Academia Paraibana de Letras. Segundo Hélder, seria um evento importante aos interesses culturais da instituição da qual também faz parte.

O professor Mirabeau disse que levaria o assunto ao conhecimento da diretoria da APC, na próxima reunião de junho, mas que fosse formalizado um pedido de apoio da APL à Academia Paraibana de Cinema, a respeito do assunto.