Glauber e o universo euclideano no cinema

Beato Conselheiro Na Guerra De Canudos Em Os Sertoes De Euclides Da Cunha
Foto: Beato Conselheiro, na Guerra de Canudos, em Os Sertões de Euclides da Cunha

Ninguém melhor resgatou o universo euclideano com tamanha firmeza e personalidade que o cineasta baiano Glauber Rocha. Digo isso, tomando por base o alegórico Deus e o Diabo na Terra do Sol. Filme vigoroso, que, de certa forma, buscou subsídios cênicos e alguns personagens no grande saltério Os Sertões de Euclides da Cunha, editado no comecinho do século passado. Obra que o historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello classifica como sendo “de força catalística”, em sua publicação Terra, revisionismo e cultura em Euclides da Cunha, de 2009, editada pela Unipê. Singular livro esse, que então estaria agora completando quinze anos.  

Por ser uma obra ficcional, precursora de dois trabalhos para cinema –  os documentários Euclides da Cunha, direção de Humberto Mauro, e Um sino dobra em Canudos de Carlos Gaspar, realizados entres os anos de 1940/1962 –, o filme de Glauber, beirando tematicamente Os Sertões, nos trouxe todo um glamour do Cinema Novo brasileiro da época. Mesmo assim, sob muito temor. Pois, Deus e o Diabo na Terra do Sol adveio justamente na época dramática da sociedade brasileira, durante a tomada do poder constituído do Brasil pela ditadura militar, cujo foco principal foram cultura e liberdade de expressão.

Lembrando bem, este ano faz sessenta anos do golpe militar de 1964. Também dos quinze anos da publicação de Terra, revisionismo e cultura em Euclides da Cunha, do historiador Zé Octávio. Publicação em que, a pedido de seu autor, registrei em capítulo toda filmografia brasileira voltada ao tema de Os Sertões,os embates em Canudos e seus personagens, como exemplo, beato Antonio Conselheiro. Esse, no filme de Glauber, um líder revolucionário tido como “santo”, que conduz peregrinos à luta contra os latifundiários da região baiana, sob a proposta religiosa de “busca do paraíso após a morte”. Conflito sangrento ocorrido no final do século XIX, que ficou então conhecido como a Guerra de Canudos. No livro de Zé Octávio, sobre Os Sertões, encontraremos detalhes desse sangrento período social religioso da história dos sertões brasileiros. Tudo isso ligado às performances do cinema nacional, como um todo. Ocasião em que inclui também o cinema paraibano, quando se avalia em um dos capítulos (Antropologia, cinema e literatura), algumas obras do próprio autor, duas de Wills Leal, destacando um livro meu: “De todos o mais importante é o de Alexa Santos – Cinema e Televisão: Uma relação Antropofágica (2002). Dissertação de mestrado (…), essa monografia reitera o que temos sustentado – a fundamentação antropológica do cinema, principal veio de apreensão da cultura paraibana, nesse caso euclidiana, tal como reconhecido pelo cineasta Linduarte Noronha em Aruanda.”


Na semana que passou, foi reeleita por mais um mandato de dois anos na presidência da Academia Brasileira de Cinema (ABC), a produtora Renata Almeida Magalhães. Pelos estatutos da entidade, também por sua gestão, ela é reconhecida como a primeira mulher à frente da ABC, desde que a entidade foi criada. Renata Almeida é também a organizadora do Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro, que antes era conhecido, apenas, como Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Em nota publicada esta semana, ABC informa que os melhores do cinema serão conhecidos em 28 de agosto próximo, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.

O presidente João de Lima Gomes da Academia Paraibana de Cinema, em nome de toda sua diretoria, conselho e associados, se congratula com a ABC, pela continuidade de Renata Almeida à frente da entidade.