Virtuais “cinemas” infestam tudo que é lugar…

Foto: Ator Jacques Perrin (Totó), sob insigne reflexão, em “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore.

A simples imagem projetada numa tela, nem sempre deveria ser vista como uma exibição legítima de Cinema. Embora, nos dias de hoje, cinema tenha ganho dimensões as mais variadas. Mesmo para “rotular” uma simples apresentação em vídeo. Até no celular. Daí porque, em sendo um dos seguidores da autêntica Arte Cinematográfica, interpretações assim, equivocadas, sobre o verdadeiro significado do cinema, de certa forma incomoda.

Na verdade, se formos à etimologia da palavra Cinema, que descende do grego (kinema), chegaremos a um instrumento que, diferentemente das outras artes, passou a congregar de uma só vez todas elas, dando-lhes “cinesia” – teatro, fotografia, música e artes visuais de um modo geral. Daí, a real grandeza do cinema, tendo por isso ganho, em início do Século XX, a condição de Sétima Arte. E sua função, mecanicamente, sempre foi dar mobilidade à imagem projetada. Efeito de origem científica e que se deriva exatamente da Física, denominado de Cinesia (ciência do movimento). Embora, como sabemos, nem todo audiovisual exibido hoje, de forma itinerante ou não, seja realmente cinema.  

Um fato que também é bom lembrar, o cinema jamais teria surgido antes da fotografia, óbvio. Dela (imagem fixa), na década de 1880, criou-se então o importante feito convencionado de “fotografia móvel” (que eu definiria como “fotogramas seriados ao movimento”), lançada em película celuloide de 35mm, em rolos de filmes, dando origem ao cinema.

Em verdade, a Cinematografia implica numa complexidade muito maior que o mero registro audiovisual em vídeo, antes analógico, hoje digital. Tanto que, lógico, a História do Cinema é taxativa quando afirma: “A criação dos irmãos Lumière é uma mistura de várias criações artísticas: do roteiro ao cenário, do figurino à fotografia, da interpretação à música. Estas e muitas outras peças são combinadas pelo diretor e acabam tornando a projeção de um filme.”

Como recurso de entretenimento visual, hoje temos virtuais “cinemas” em tudo que é lugar. Tem-se rotulado qualquer reprodução com uma imagem em vídeo exposta numa tela – até mesmo de um notebook –, como sendo cinema. E isso nos tem levado à preocupação, não só pelo erro em si, mas pelo que tem de sério à compreensão das novas gerações, do que seja a verdadeira “arte de luz e sombras”. Como bem a definira o genial Federico Fellini. Vejo com estranheza que as nossas academias de ensino, quase na sua unanimidade, não têm buscado esclarecer tal equívoco sobre o que é realmente cinema. Questão que sempre debati com alunos de Fotografia e Cinema, quando de minhas aulas na UFPB e em outras universidades.

Contudo, diria ser bem posta a ideia de se levar informações à população através da “imagem móvel”. Mesmo que seja com titulações estranhas, como: “Cinema volante”, “Rodoviário”, “de Calçada”, “Cinema de Periferia”, sei mais lá o quê? Que os poderes públicos oficiais, como está sendo amplamente anunciado, destinem verbas para os programas audiovisuais e “salas de cinema”. Mas que não se confunda qualquer “atividadezinha” audiovisual com Cinema. E aqui, longe das questões eminentemente filosóficas sobre cinema, como queriam os franceses Ollivier Pourriol e Gilles Deleuze, que tratam dessa arte ideologicamente. Ou mesmo de voltar ao “cinematógrafo” dos Irmãos Lumière, mas de ver o Cinema como deve ser visto realmente: Motivo de encantamento e de insignes reflexões.


APC reúne diretoria no Cine Mirabeau

A Academia Paraibana de Cinema reuniu seus dirigentes, na quarta-feira passada, no Cine Mirabeau, no Bessa, para avaliar e aprovar seu relatório de realizações neste primeiro semestre do ano. Entre os temas apresentados, ações empreendidas em parceria com outras instituições culturais; e informe sobre a Sala Antonio Barreto Neto, da APC. Também, foi discutido e aprovado o planejamento das propostas de ações para o segundo semestre deste ano.

A reunião ordinária foi presidida pela titular da APC, atriz Zezita Matos, e secretariada pelo prof. João de Lima, vice-presidente da entidade, que fez a leitura dos relatórios, sendo aprovados pelo Conselho Diretor da entidade.