Rita Lee e o filme que jamais realizei

Foto: Os Mutantes e seus integrantes Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias.

Há quem sempre afirme, talvez por experiência de idade, que o tempo é o grande conselheiro na vida. E que, de vez em quando, esse mesmo tempo nos chega lembrando situações especiais que outrora vivenciamos. São fatos que precisamos “rebobina-los” (aqui, usando uma máxima do cinema), para melhor avaliarmos seus valores, sobretudo, em comparação aos dias atuais.  

Esta semana, também nessa mesma linha de raciocínio, dois fatos ainda me dizem muita coisa, após quase meio século: o primeiro foi motivado por um clipe musical, que a esposa Lili me enviou pelo WhatsApp. Uma “relíquia” dos bons tempos do nosso Tropicalismo, com uma galeria de jovens belas vozes daquela época, inclusive Rita Lee, que ultimamente deixou a música popular brasileira mais pobre; o segundo instante lembrado por mim, terá sido os 177 anos de emancipação da Cidade de Areia, no brejo da Paraíba.

Pois bem. No primeiro caso, a informação do falecimento de Rita Lee me fez retornar aos tempos dos Mutantes. Lembro bem, um conjunto criado em 1968 (se não me engano), que fez um tremendo sucesso até os anos setenta. Época em que, ainda muito jovem, tinha eu nas poesias de Américo Falcão, Albino Forjaz e Augusto dos Anjos um dos meus interesses. Contudo, mania mesmo era com o cinema, coisa que todos já estão carecas de saber.

Mas, justamente aí que entra a “estorinha” de hoje. Lembram do grande sucesso que foi a música dos Mutantes, Panis et circenses, com Rita Lee? Pois é, lembro muito bem: “Mas as pessoas na sala de jantar/Essas pessoas na sala de jantar/São ocupadas em nascer… e morrer…”

Foi realmente nessa época, como quase todo jovem influenciado pelas inovações do Tropicalismo e da Jovem Guarda, deixei-me levar pelas ideias da boa música no cinema. Assim, o refrão da canção dos Mutantes – “Essas as pessoas na sala de jantar…” – aclarou-me a ideia, em realizar curta-metragem em 16m/m, com uma câmera filmadora (não videográfica), que já dispunha, cujo tema seria sobre uma família de glutões sentada à mesa, com a televisão ligada dando informes sobre “comilanças”, ao som de Panis et circenses. Uma das músicas do álbum de mesmo título, trazendo o reforço de “Tropicália”.

O sentido alegórico da cena do curta deixava claro que, aquele momento dos extravagantes comilões, deveria ser entendida sob a forma burlesca; Até ridícula, nos remetendo ao picadeiro de circo e às palhaçadas do conhecido “dono da noite!”

Então, o fiel leitor das nossas “domingueiras” de A União, perguntaria:

Enfim, Alex, qual a ligação que o assunto sobre os Mutantes e Rita Lee tem com os 177 anos de emancipação da cidade de Areia?

Aí está, parceiro! Naquela época, a ligação que idealizei não poderia ser melhor: toda filmagem seria no palco do Teatro Minerva, de Areia. Concebi a ideia quando de constante idas e vindas à cidade serrana com o amigo e saudoso prof. Alfonso Bernal, também não apenas durante o Festival de Arte. Aquele teatro sempre me motivou à realização de cinema. E ainda hoje trago comigo estória e script do que seria o curta Essas Pessoas... Ah! As memórias…


APC no Cinelimite da Cinemateca Brasileira

Integrantes da Academia Paraibana de Cinema participaram, domingo passado (28), da programação do Cinelimite, uma promoção da Cinemateca Brasileira de São Paulo, com apoio da Universidade Federal da Paraíba, por meio do Núcleo de Documentação Cinematográfica – Nudoc.

Na ocasião foi exibido o curta-metragem Closes, do Pedro Nunes Filho, além de outros curtas realizados na década de 1980, na Paraíba. O professor Nunes ocupa a Cadeira 28 da APC, (Patrono, cineasta Machado Bitencourt), se fez acompanhar do professor João de Lima, também da UFPB e da APC.