Valorizando a contemplação da imagem

Foto: Ator Donatas Banionis, em Solaris, filme soviético de Andrei Tarkovski

Motivado pelo recente artigo do parceiro André Cananéa, publicado em A União (“Desacelere”), acerca da “observação da velocidade” (Speed Watching), o que tem tudo a ver com o cinema, desde os seus primórdios, fui rever a velha questão do filme Solaris, uma produção do início dos anos 1972, do cineasta russo Andrei Tarkovski.

Elogiado por uns, condenado por outros, Solaris se insere na categoria de outro clássico do gênero daqueles tempos, realizado quatro anos antes, que é 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Embora sem o magnetismo e a repercussão internacional que teve a obra de Stanley Kubrick, o filme russo criou um certo alvoroço por onde passou.

Mesmo levando em conta tais referências cinematográficas, claro fica aqui, uma reflexão mais intrínseca à luz e dinâmica da imagem no cinema, do que, propriamente, em razão de quaisquer gêneros de sua abordagem. Qual seja, a da real aceleração imagética como narrativa; muito mais que “aceleração da música” (spped up songs), mesmo que essa tenha sido velha parceira de grande parte da obra fílmica americana, lembrando os grandes musicais da Broadway.  

Se é certo que o filme russo “valoriza a contemplação da imagem”, nada mais justo em razão do cinema. Visto que, Solaris, investe numa configuração narrativa diferenciada, que seria a partir da cognição insólita sobre situações existenciais, trazidas como virtuais, de alguns de seus personagens diante da conjuntura espacial/sideral em que atuam. Fatos que os levariam, inclusive, a instantes de aparentes visões e conflitos pessoais.

Mas a questão a ser vista aqui não seria só a do próprio filme russo, mas o que a imagem dele e das demais obras análogas possam representar. Até mesmo significar como discurso narrativo no cinema. Porque é a partir da imagem cine ou videográfica – expressamente dinâmica ou não – que se formam conclusões à análise de uma obra audiovisual. E lembrando Federico Fellini, de saudosa memória, “Cinema é luz!”. E imagem é luz a ser lida visualmente no seu feitio acelerado ou desacelerado, motivando “n” leituras sobre cada forma exibida.

Também nessa questão da “celeridade visual”, não muito raro, reverberam produções distanciadas de uma melhor contemplação, leitura e reflexão de seus discursos visórios. Havendo aí a suposição do que deva ser realmente “uma dicotomia em relação ao modo acelerado de consumir filmes”, conforme vem se acentuando, costumeiramente.

Essa divisão (dicotomia), em vez de se assistir a um filme em seu tempo real, mas alternando-lhe a aceleração, esseé um modismo inaceitável e que não condiz ao mister da obra fílmica. Mesmo que as gerações atuais busquem seus próprios meios e tempos de contemplação e prazer visual. Quanto à narrativa de tempo e de sequências, hoje usa-se muito o recurso da linguagem “Elipse”. Tudo isso nos leva aos tempos iniciais do próprio cinema, quando do uso de uma tecnologia de exibição em 16q/s (quadro por segundo). Quem jamais esquece a fase inicial do “cinema mudo”? Os filmes realizados naquela época, projetados hoje na velocidade normal de 24q/s, após o advento do som, causam estranheza. São imagens antigas mostrando um Carlitos (Charles Chaplin) ou um Cristo revivido em sua Paixão, todos eles andando “apressadinhos”…


APC nos 177 anos da cidade de Areia

Representando a Academia Paraibana de Cinema e o Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, esteve presente ao evento de 177 anos de emancipação da cidade de Areia, na Paraíba, o vice-presidente da APC e professor João de Lima Gomes, cadeira 14, que tem como patrono o fotógrafo João Córdula.

A celebração foi realizada no Teatro Minerva, centro da cidade, ocasião em que foi exibido o curta-metragem Areia, Arte e Memória. Documentário que homenageia o berço de José Américo, do pintor Pedro Américo e de tantos nomes ilustres da cultura paraibana.