Um cinema fiel à dramaturgia shakespeareana

Foto: Atriz Daisy Ridley, no papel da bela Ofelia.

Observando bem a obra de William Shakespeare, mesmo sob a ótica do cinema, não há dúvida de que a criação do poeta estaria para o teatro, assim como o teatro estaria para o dramaturgo inglês. E na maioria de suas peças, segundo o historiador Leandro Karnal, existe uma espécie de entropia sobre os valores humanos, sobretudo em Hamlet.

E desde que conheço os seus textos, não são poucas as adaptações para teatro e cinema das obras de Shakespeare. Um dos maiores autores ingleses, atuante entre a segunda metade do século XVI até o início do século XVII, deixando um legado de quase quarenta obras. – tragédias, dramas históricos, comédias, sendo mais conhecidas, Romeu e Julieta, Otelo, adaptadas algumas vezes para premiar o público de cinema; além de Hamlet, Macbeth, Rei Lear, e peças amenas como A megera domada.        

Numa das peças de Shakespeare, não obstante o amplo enfoque dado a uma das principais figuras, o Príncipe Hamlet, a personagem de Ophelia se apresenta com destaque. É o que se verifica na produção americana lançada em 2019, Ofélia, que assisti mais uma vez esta semana, pela Netflix.

Belo filme dirigido pela australiana Claire McCarthy, que nos presenteia com uma narrativa fiel à dramaturgia teatral e uma notória mise an scène bem original, sem nenhuma pirotecnia visual e desrespeitosa às origens do texto. É um filme encantador pelas imagens, pela cenografia, que vem cativando seu público-alvo com aceitação em mais de 70%, no mundo todo.

A história do filme, que já deve ser conhecida por muitos, fala da tragédia de uma jovem dinamarquesa, Ophelia (Daisy Ridley), à época considerada de origem plebeia na corte do príncipe Hamlet (George MacKay), por quem se apaixona. Ele, filho da Rainha Gertrudes (Naomi Watts), que é esposa do Rei Cláudio, personagem do ator Clive Owen. Toda a ação se passa no Castelo de Elsinor e suas cercanias, no interior da Dinamarca.

Um dado importante no filme, que a rigor entra de forma en passant, quase imperceptível ao espectador desatendo, que é uma discussão sobre Ciência, sobretudo médica, e a fé religiosa durante a Idade Média. São crenças e cultos que vão do satanismo, da bruxaria, à queima de pessoas na fogueira. Como também fica bastante claro o aforismo Protestante da época, de que os Conventos – a um dos quais Hamlet orienta Ophelia a se refugiar –, nada mais eram que meros “prostíbulos”. Um outro aspecto importante no filme da diretora Claire McCarthy, sem dúvida alguma, é o do respeito à “dramaturgia teatral”. E jamais deveria ser diferente. O filme todo dá ênfase a uma mise an scène dos atores valorizando o teatro.


APC lembra trajetória de seu Patrono – Cadeira 28

Abril é mês que marca os 24 anos de falecimento do cineasta paraibano Jureny Machado Bitencourt, patrono da cadeira 28 da Academia Paraibana de Cinema, que tem como ocupante o professor Pedro Nunes Filho, da UFPB.

Bitencourt, que foi um dos mais influentes cineastas paraibanos, criou a “Cinética Filmes Ltda” em agosto de 1974, com sede em Campina Grande, com a finalidade de produzir filmes publicitários para a televisão e para o cinema. Realizou vários curtas-metragens, incluindo A Feira, Maria Coragem e tantos outros. A sua obra mais importante foi Parahyba, numa parceria com o cineasta Alex Santos, membro da APC, filme premiado em três festivais nacionais de cinema – Brasília, Fortaleza e Maranhão. Mais sobre Bitencourt, no YouTube: https://studio.youtube.com/video/UUfTGZ4_Myg/edit