Apesar do título, para alguns um filme normal

Foto: Michelle Yeoh, ao centro, Oscar de Melhor Atriz.

Rebobinando a história do cinema, sempre soube que “lógica narrativa” é a coisa mais importante em um filme. Mesmo que seja uma ficção, como já vimos em grande número de películas no passado. Mas isso jamais prevalece, sobretudo hoje, quando se trata de uma premiação como a do Oscar.

Semanas atrás, aqui mesmo na coluna, falava da gravidade de mercado na trajetória de um filme, rotulando-o bom ou péssimo. E afirmava que o Oscar mais uma vez tem sido, quer se queira ou não, o termômetro para se medir tudo que ainda se faz em cinema, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Das coisas mais admissíveis às mais insólitas.

Pois bem, é o caso de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo,ganhador da estatueta de Melhor Filme, no 95a Cerimônia do Oscar realizada no domingo da semana passada. Uma cerimônia, como tem sido nos últimos anos, cheia de idiossincrasias estranhas de apresentadores e vencedores do Oscar.

Catando “moedas”, aqui e acolá, em alguns certames, pior, empolgando espectadores incautos e limitados de melhores leituras ao que veem, o filme da dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert, como se diz: Arrasou!

Diante do que vimos testemunhando ao longo do tempo, muita coisa tem mudado no cinema. E a visão de hoje não é tão respeitosa como antes sobre a movie art. Mais ainda, tendo um Mercado ávido, voraz e na sua cola, muito mais do que antes. Mas o Cinema ainda tem suas reais características a serem respeitadas, como já citei acima, sendo uma delas a “lógica narrativa”.

Mesmo sabedor dos recursos tecnológicos digitais de hoje, com os quais temos melhorado e muito nas edições os encartes de situações à narrativa, há excessos daquilo que chamo de “pirotecnia visual exacerbada”, que foge literalmente da realidade; virtualidade doentia e alucinógena, como se fosse uma droga real, jamais praticada anteriormente em tamanhas doses. E como afirmei anteriormente, apesar de estranho título – Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo –, é um filme que nos parece normal. Digo, parece!

Detentor de 7 prêmios, dos mais de dez aos quais foi indicado, o filme da dupla Daniel inicia com uma biografia normal de família, com todos os seus entraves cotidianos. Mas, de repente, passa a abusar do alucinógeno visual, evocando, inclusive, uma espetaculação marcial chinesa, justo para sublimar a atuação de sua personagem central, vivida pela atriz oriental Michelle Yeoh. A partir de então, a narrativa perde seus freios, gerando aquilo que só poderia acontecer: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, desprezando o que é mais importante em cinema, que é o discurso linear da história.

Sobre o filme, há opiniões críticas que jamais são unânimes. Algumas coerentes ao que se viu, outras nem tanto. – “O filme é tão caótico quanto o nome sugere a insanidade natural de sua ideia.” Uma outra, agora tentando amenizar, afirma: “Quanto mais os diretores extrapolam nas doideiras, mais fácil fica aceitá-las e o filme se permite brincar com as possibilidades mais bizarras e intrigantes já imaginadas.” Aliás, a alucinação cibernética, diria ser a doença dos novos tempos. E o Mercado e o Oscar estão aí cooperando pra isso…


APC e CCTA exibem “A Hora da Estrela”

A atriz Marcélia Cartaxo, ocupante da Cadeira 33, que tem como patrona a também paraibana Nautília Mendonça, da Academia Paraibana de Cinema, será homenageada na sessão do Cine Aruanda, na próxima quinta-feira (23), às 11 horas, na UFPB. O filme será A Hora da Estrela, produção de 1985, com direção de Suzana Amaral, baseado no livro homônimo de Clarice Lispector.

As sessões no “Aruanda” é  sempre uma maneira de aproximar os alunos universitários do nosso cinema, segundo informou o professor João de Lima, vice-presidente da APC.