O verdadeiro cinema, assim o entendo, é aquele que aprecia fielmente a Natureza, na sua mais extensa significação. Uma natureza não somente na forma humana, no modo existencial de ser de cada pessoa, mas a verdadeira Natureza (com letra maiúscula), no que existe nela de mais belo e cênico. E citaria aqui o termo “cenográfico”, justo naquilo que é deveras imperativo das artes pictórica, teatral e cinematográfica, que é uma mise en scène jamais meramente virtual, mas real em scénographie.
E se alguém me perguntasse o porquê do termo “natureza”, sobre o que realmente admiro na vida e no cinema, responderia de imediato e sem medo de errar: no caso do comportamento humano, nobreza de caráter – mesmo sabendo que, diferentemente do cinema e das artes, uma mise en scène de natureza pessoal nem sempre é fidedigna, sendo mero fingimento –, na obra de arte, as bem construídas encenações em imagens cenográficas naturais, como narrativa no contar de uma história.
Todo esse alinhavado acima, afirmo ser para justificar as preferências que tenho sobre cinema. Arte que admiro na sua forma estética, imagética; também, na fidelidade de um bom argumento como discurso narrativo.
Toscana, filme que revi esta semana na Netflix, uma produção de 2022 lançada em maio do ano passado, me traz uma convenção a tudo que apreciei acima. E o que mais me empolga na obra do diretor Mehdi Avaz não é a trama envolvendo personagens, que chega a ser trivial, mas a região em que foram feitas as cenas do filme. Um dos locais mais belos da Toscana, em um castelo fora de Florença, na Itália. O filme é uma verdadeira ode à natureza cênica do lugar e à gastronomia, onde não poderia faltar um tributo ao “Deus do Vinho”. E, discussões à parte, se seria Baco ou Dionísio o real guardião de tão valorosa bebida; sobretudo o rouge, um de meus hábitos cotidianos…
Há quem afirme que o filme é simplesmente uma boa opção a se assistir. Vou mais além. É um colírio aos olhos daqueles que admiram a Natureza no melhor de sua estética “vegetalista”. Quanto ao existencial dos personagens, a narrativa foca diretamente, segundo o script, na figura de Theo (Anders Matthesen). Um renomado chef de cozinha, proprietário de restaurante na Dinamarca que vai à Toscana, após o falecimento de seu pai, para assumir a herança de um antigo castelo, atualmente um restaurante para turistas. É lá onde ficaram suas raízes e memórias infantis, inclusive a Sophie (Christina Dell’Anna), sua paixão de adolescente. Ainda ressentido com o seu pai, por questões de abandono da família, pretende vender tudo e voltar à Dinamarca.
Moral da história: prevalece as quimeras afetivas, fazendo com que Theo fique definitivo na Toscana, assumindo o restaurante que alí existe desde os tempos de seu genitor. Finalmente, gostaria de fechar minhas reflexões sobre o filme Toscana, levando em conta o que afirmou uma certa especialista em vidas humanas: “…Theo foi revendo fantasias e memórias afetivas, reiniciando laço amoroso com a Sophie, reconciliando as representações simbólicas do próprio pai com sua história infantil…” Cenicamente é um belo filme, mesmo de história trivial sobre família, carece ser assistido.
APC homenageia a mulher no cinema
Academia Paraibana de Cinema e o Curso de Comunicação da UFPB, na sessão da quinta-feira passada, às 17hs, no Cine Aruanda da Universidade, homenagearam a mulher paraibana no cinema, um dia após o 8 de março. O filme exibido foi Romão práqui, Romão prá acolá, de Vânia Perazzo, diretora de outros singulares trabalhos. As sessões no “Aruanda” é uma maneira de aproximar os alunos universitários do nosso cinema, segundo informou o prof. João de Lima, vice-presidente da APC.
Vânia Perazzo, considerada “pioneira entre as mulheres diretoras”, é também uma das fundadoras da Academia Paraibana de Cinema, ocupando a Cadeira 35, que tem como Patrona a atriz Margarida Cardoso.