O que é o cinema, realmente? O que o cinema foi e continua sendo, senão uma arte para representar os nossos sonhos, visando o entretenimento? E numa coisa o saudoso Wills Leal tinha razão: “O nosso cinema é espiritual”. Sentença essa que está, com sua viva voz, no curta-metragem Cinema Inacabado (1980), que realizei com imagens de Wills na Lagoa, local da antiga Churrascaria Bambu.
A verdade é que o cinema paraibano jamais foi um cinema comercial, na real expressão do termo. Hoje, menos ainda, por não possuirmos uma genética nesse sentido. Contudo, explicações teremos ao buscarmos nas suas origens os motivos reais das dificuldades de realização, a partir das experiências de um dos pioneiros que foi Walfredo Rodriguez. Um cinema que, dentre outros segmentos, jamais fez parte da economia cultural do seu próprio estado, segundo estudos referendando essa triste constatação, não só na Paraíba. O que vem sendo inversamente provado em relação a outros países, onde cultura e arte têm sido fortes economicamente.
O nosso cinema tem sido, sempre, em razão das dificuldades de recursos de produção, as mais variadas; menos da falta de capacidade na sua criação. Daí a sua verdadeira tradição documental, abonando aquilo sobejamente sabido, até criativo, que é a realização de um “cinema independente”, conferindo a ideia de “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Óbvio!
Visto isso, então, atribuir-se “um fracasso de bilheteria” a uma única produção paraibana de longa-metragem, em 1970, que foi O Salário da Morte, deixando de contextualizá-la como fato às razões do cinema nacional daquela época, o que contribuiu para a não aceitação comercial do filme, seria ignorar a real história do cinema brasileiro. Sendo ainda pior, quando se taxa de “incapacidade de realização de ficções” ao cineasta paraibano Linduarte Noronha.
O insucesso comercial de O Salário da Morte não foi falta de capacidade (não confundir com competência) de direção na ficção. Se buscarmos os reais motivos do malogro mercantil de muitas produções brasileiras de longa-metragem daquela época – jamais só a paraibana –, as razões seriam outras, ou na falta de uma melhor exceção desenvolvimentista e tecnológica por parte das produções dos filmes. Não vejo também, nenhum demérito a utilização do preto&branco naquela época, em se comparando ao Neorrealismo italiano ou o Cinema de Vanguarda (Avant–Garde) francês, ciclos que fizeram tanto sucesso com uma filmografia não colorida…
A questão comercial do filme de Linduarte Noronha, realmente, foi a produção ter subestimado os interesses dos espectadores pela imagem colorida no cinema de então, quando esse recurso era primazia naquele momento, e com a televisão “domesticando” as famílias e o público em geral com a nova resolução visual. Falta de capacidade na direção do filme e de atores, ainda, na condução narrativa, mesmo transcrita de uma obra literária (“Fogo”), não foi a causa do malogro comercial de O Salário da Morte. Mas, sua extemporaneidade à cor; proposta de um novo cinema.
Verdade é que o cinema paraibano nunca teve um lume para produção comercial. Daí a razão pela qual jamais tive olhos para isso, mesmo quando filmava (em película) nossos curtas-metragens e tendo que finaliza-los nos laboratórios da Lider. Daí, aquela velha dependência ao famoso “eixo Rio-São Paulo”. Também, por sermos ainda considerados bons documentaristas, jamais acreditei que nos tenha faltado a capacidade de realizar obras de ficção. Eu mesmo, hoje gravo minhas ficções sem nenhum problema… Que se veja Antomarchi, ou Américo: Falcão Peregrino, respectivamente, um média e um longa-metragem, ambos premiados… O que se deve entender, portanto, é que existem hoje evasivas quase sempre (intencionais ou não) em algumas alegações feitas sobre o cinema paraibano.
APC já se programa para o Dia Mundial do Cinema
A Academia Paraibana de Cinema deve se reunir ainda este mês, ou em outubro próximo, para definir com bastante antecedência a programação do Dia Mundial do Cinema, que acontece no dia 28 de dezembro. A informação é do vice-presidente da entidade, o professor João de Lima Gomes, ocupante da Cadeira 14 da APC, cujo Patrone é o fotógrafo e cineasta João Córdula, que foi diretor também do antigo Cinema Educativo da Paraíba.
Segundo ainda João de Lima, deverá fazer parte da programação da APC a criação e aposição de placas e retratos dos ex-presidentes da entidade, em ambientes da Academia Paraibana de Cinema.