Segregada mulher marcho, sim Senhor!

Foto: Tizuka Yamasaki diretora de ‘Parahyba Mulher Marcho’

A Paraíba sempre teve voos tranquilos no cinema. Um deles, que agora me lembre, sem turbulência que pudesse lhe causar maiores transtornos, foi o documentário Parahyba, que eu e Machado Bitencourt realizamos, tendo a parceria do historiador José Octávio de Arruda Mello, para celebrar o Quarto Centenário da Paraíba, em 1985.

Três anos antes, uma outra realização cinematográfica com expedientes também paraibanos, inclusive roteirizada pelo conterrâneo José Joffily Filho, não teve a mesma sorte. Inventou uma espécie de marketing de produção um suposto escândalo, fazendo da sociedade paraibana de então, cinquenta anos depois, a protagonista. Quiçá, não bastasse aos realizadores a importância do tema sobre aquela mulher de postura independente para sua época, Anayde Beiriz, em tempos rumorosos que foram os de 1930.

Pois bem, minha gente, assim foi gestado o polêmico Parahyba Mulher Marcho, da diretora nipo-brasileira radicada em São Paulo, Tizuka Yamasaki.

Pelo que já se explicou e tanto se conhece da História da Paraíba, jamais foi ignorado que, socialmente, houve rejeição ao “culto feminista” na época da poetisa e professora Anayde Beiriz. Mas, incorporar hoje a tal rejeição como sua, em sendo a diretora do filme, mais de setenta anos depois, seria demais… Em verdade, foi o que aconteceu, recentemente. O tal fenômeno só serviu de ululante proposta de marketing ao filme, em 1982. Mas hoje?

Vivendo-se aqui um período de euforias cinematográficas, que foram os dos anos 1970/1980, com uma imprensa realmente adaptada às inovações e modelos sociais, na qual eu trabalhava, o título do filme de Tizuka não teve o peso que alguns moralistas e conservadores queriam. Isso lembrando outra polêmica, quando da realização de um outro filme, Soledade (1976), baseado no romance “A Bagaceira”. Para o autor, sua obra fora, sim, desvirtuada como narrativa no filme do carioca Paulo Thiago, desagradando profundamente o escritor José Américo de Almeida.

E hoje, quarenta anos depois, de volta à Paraíba para ser homenageada pelo FestincineJP, Tizuka Yamasaki chega com o mesmo discurso de antes, alegando, inclusive: “Senti na pele parte do que Anayde sentiu 50 anos antes. Isso, na verdade, colaborou com o meu sentimento do que é ser segregada”. Será que a ilustre diretora de filmes importantes do cinema brasileiro, como Gaijin e Os caminhos da liberdade, não terá se auto-segregado da Paraíba por razões outras? A rigor, seu filme Parahyba Mulher Marcho, cujo título, como se sabe, foi meramente intencional a criar uma bolha socialmente especulativa sobre a mulher paraibana, serve hoje a encorajar o animus de uma “japônica” mulher marcho, sim Senhor! Diretora que pisa novamente o solo paraibano (mesmo “segregada”), com o mesmo discurso de quarenta anos atrás.


APC prestigia programa da Globo

A Academia Paraibana de Cinema vem prestigiando os debates sobre o cinema paraibano, através do programa da Rede Globo Cine Paraíba, que está sendo lançado agora todos os sábados, pelas TVs Cabo Branco e Paraíba.

Representando a APC, estiveram presentes os acadêmicos Zezita Matos, atriz e presidente da entidade, e o professor Lúcio Vilar, diretor executivo do Fest Auanda. O programa faz parte de um projeto da emissora para valorizar o cinema paraibano e seus realizadores.