Uma ‘arribação’ que desfalcou o cinema

Foto: Atores Anco Márcio (E), Luíza Lacet e o diretor Alex Santos (D), nas filmagens de ‘Arribação’.

Eu o conheci no palco do Teatro Santa Roza. Ele encenava o eloquente monólogo “O Diário de um Louco”, de Nikolai Gógol. Sua mise en scène me impressionou. Justamente, quando eu buscava alguém para representar um sertanejo fugindo da seca, com mulher e filho pequeno, em “Arribação”, um de meus primeiros filmes, no final dos anos sessenta. O ator era Anco Márcio de Miranda Tavares, que só o conhecia através da imprensa, atualmente um festejado Patrono da Academia de Artes e Letras Cabedelense.

Nessa época, já afiliado à Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba (ACCP), sob o comando do amigo Barretinho, eu integrava o cast da Rádio Correio, recém inaugurada no Ponto de Cem Reis, quando das obras do Viaduto Damásio Franca. Eu fazia locução e apresentava dois programas: Curta-Metragem, com edição diária, e Cine-Projeção, sempre aos domingos.

Em conversa com Anco Márcio, convidei-o para que protagonizasse o personagem de um retirante. Aí mostrei-lhe o script, dizendo que a resposta poderia ser dada depois… De início, Anco relutou um pouco, alegando que tinha sido recentemente rejeitado pelo George Jonas, para interpretar no cinema o personagem em “A Compadecida” (1969), sob alegação do diretor de que ele não tinha perfil de sertanejo.

Mas, algo me dizia que Anco aceitaria agora o personagem, porque meu olhar não me confirmava o que o produtor boliviano naturalizado brasileiro dissera, taxando-o de “tipo urbano” e impróprio para o papel criado pelo autor Ariano Suassuna.

Dito e feito! Ninguém terá conseguido postura melhor nas cenas de “Arribação” que aquele versátil ator paraibano. A rigor, nunca se tinha visto casamento mais perfeito de flagelados numa bruta paisagem do semiárido, quando sepulta o seu próprio filho na região devastada pela seca, interior da Paraíba. Ao lado da atriz também de teatro Luíza Lacet, uma conterrânea minha, de Santa Rita, provamos que não é só necessário olhar, na escolha de um ator, mas vê-lo por dentro. Vê-lo bem…

A região do curimataú – Tacima, Araruna e Pedra da Boca – foi o nosso cenário para as filmagens de “Arribação”. À época, uma produção em preto e branco, realizada com uma câmera de filme 16mm, que me fora cedida pelo amigo Barretinho, da ACCP. Uma saga de retirante, que houve de ser contada também em textos de Machado Bitencourt, em outro filme nosso – “Cinema Inacabado”.  

Nos últimos tempos, minhas ligações com o amigo Anco Márcio foram na produção dos Cinejornais da Repson Filmes (de Ivan de Oliveira), em que Anco redigia os informes narrativos e eu os filmava. Depois, através do blog www.ancomarcio.com, em que ele assinava uma coluna semanal “Romance da Cidade”. Foi então que fiquei surpreso com o seu prematuro falecimento, deixando mais pobre a dramaturgia, o rádio e o jornalismo paraibanos.Hoje, mais uma vez, vejo-me diante da viabilidade de ser honrado pelo amigo, ocupando sua Cadeira 04 de Patrono da Academia de Artes e Letras Cabedelense. Por tudo que fizemos pelo cinema, descanse em paz, parceiro Anco!


APC marca presença no Festival de Gramado

Ocupante da Cadeira 33 da Academia Paraibana de Cinema, cajazeirense Marcélia Cartaxo, mais uma vez ganha o prêmio de Melhor Atriz em recente Festival de Cinema de Gramado, pelo longa-metragem “A Mãe”, dirigido por Cristiano Burlan. O integrante da APC e fotógrafo João Carlos Beltrão esteve também no certame, com o filme “O Pato”, sob a direção Fernando Domingos, que foi igualmente premiado.

Esta é a segunda vez que Marcélia ganha prêmio em Gramado, de melhor atriz. Anteriormente foi em 2019, por sua atuação em “Pacarrete”. A diretoria da Academia Paraibana de Cinema e parceiros se congratulam com a atriz paraibana e com o conhecido fotógrafo João Carlos Beltrão.