Nem sempre a Arte ousa confrontar o poder do Estado. Sobretudo, nas situações em que se vive um governo em regime de força. Ao que lembre, isso tem sido muito raro, pelo menos no cinema. Já os governos autoritários, pelo que temos testemunhado, sempre foram unânimes em perseguir a liberdade de expressão artística e seus autores. Mas a arte pictórica, mesmo silenciosa, como interpretação, pode sublevar-se contra quaisquer regimes que exista; até o ditatorial.
Esta semana assisti a um filme que trata desse assunto. Uma produção alemã e que se passa no período após a Segunda Grande Guerra. Baseado em fatos reais, segundo a sinopse, Werk Ohne Autor (Trabalho sem autor), que no Brasil ganhou o título de Não Deixe de Lembrar, é um drama interessante. Não obstante suas mais de três horas de duração, o que o torna um pouco cansativo, é uma obra que visa a natureza humana e o sonho de uma criança em ser artista plástico.
A história traz toda aquela arrogância nazista do Führer, através de seus comandados, mesmo como perdedores de uma guerra. Fato esse mostrado no início do filme, durante inauguração da exposição de pinturas modernas, na comunidade de Dresden, arte considerada pelo regime hitlerista de então como “degenerada”.
O que mais choca nas declarações de reprovação do guia da exposição, ao conduzir os visitantes pelos amplos corredores da mostra, é a sua postura de militar e representante do então regime. Mais ainda, em razão da presença de Kurt (Cai Cohrs), um garoto de cinco anos de idade, levado por sua tia Elisabeth (Saskia Rosendahl) que o adverte para “nunca desviar o olhar porque tudo que é verdadeiro contém beleza”. Isso, em razão do discreto encantamento do garoto sobre as cores e formas, contrariando as posições descabidas do guia sobre as obras expostas. E ele mantém esse conselho pro resto de sua vida, mesmo quando sua tia é levada pelo exército nazista por suspeita de esquizofrenia. Evento que afeta sensivelmente o garoto, perturbando no futuro suas ideias sobre a arte.
Um dos instantes do filme que merece atenção, logo no início, é quando o guia nazista mostrando a Kurt uma pequena pintura abstrata (que custara nada menos de dois mil marcos) pergunta ao garoto se o pai dele pagaria dez centavos pelo quadro. E depreciando o valor da obra, afirmando que o custo financeiro da tela representaria “o salário de um ano do trabalhador alemão”, pergunta ao garoto: “Em que seu pai trabalha?” O garoto responde: “Ele está desempregado”. Moral: à época, uma Nação que perdeu a guerra, mal vista no mundo todo, cheia de desempregados, mas que não perdeu a empáfia.
No fundo, rever a situação de uma Alemanha e seus comandantes, que são desacreditados política e socialmente por outras nações, ou como diz uma das críticas ao filme: “É a evocação de uma população e derrotada da guerra que não experimentou o comunismo como revolução, mas como uma substituição”.
Não Deixe de Lembrar dirigido pelo cineasta alemão Florian Henckel von Donnersmarck, que escreveu e dirigiu também o premiado A Vida dos Outros, é um filme interpretado pelo ator Tom Schilling (Kurt pintor adulto) que motiva reflexões sobre os valores humanos, inclusive politicamente, nos dias em que vivemos, sobretudo no campo das artes.
APC se congratula com a nova academia
O jornalista, crítico e cineasta Alex Santos, Cadeira 05 da Academia Paraibana de Cinema, cujo Patrono é o seu pai Severino Alexandre Santos, pioneiro exibidor paraibano, recebeu esta semana no seu escritório, em Tambaú, visita da advogada Alexandra Cavalcanti Luna e do jurista Jorge de Luna Freire, filho do historiador paraibano João Lelis de Luna Freire. Na ocasião, Alex foi convidado a ocupar uma vaga na Academia Cabedelense de Artes e Letras Litorânea, que tem como foco uma orientação Estudantil Infantojuvenil. Como se sabe, uma proposta inovadora, em termos de entidade patronal.
Da relação de patronos oferecida a Alex, onde se destacam figuras do mais alto conceito artístico paraibano e nacional, o cineasta deve analisar a proposta, especialmente os nomes da área de cinema e teatro existentes. Mas, lhe chamou atenção a Cadeira 04, cujo patrono é o ator e seu antigo parceiro Anco Márcio, com quem já trabalhou no cinema, dirigindo-o no documentário “Arribação”, em 1967.