Um motivo que sempre me fez rebobinar as questões do tal movimento superoitista, dos anos setenta/oitenta, é o do “cinema direto”, que fora muito alardeado naquela ocasião. Isso, em razão da tese defendida por alguns dos fundadores da organização Varan, uma associação criada na França para fomentar a cultura cinematográfica, até fora de Paris, com atuações inclusive na Paraíba. Evento que houve de maravilhar (sic) muitos dos superoitistas nossos da época, e que parece não terem entendido, ainda, o que realmente é Cinema.
Naquela época, já na assessoria de imprensa da PRAC-Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários, da Universidade Federal da Paraíba, e formalmente na comissão de criação do Nudoc-Núcleo de Documentação Cinematográfica, e também redator do jornal O Norte, há mais de cinco anos, de certo modo me insurgi sobre aquele rótulo de “cinema direto”.
Se já vínhamos produzido realmente aquele tipo de abordagem fílmica, em nossos documentários, por que então, para alguns mais entusiasmados, aquela seria uma tão empolgante “novidade”? E mesmo porque, acabávamos de substituir a bitola de 16 mm, que vinha sendo usada há muitos anos nos nossos curtas e longas-metragens, pelo Super-8. Sendo essa bitola de uso da nova sugestão francesa de produção, quando já se entendia tudo aquilo como um mero modismo. E eu estava certo em minhas publicadas deduções…
A rigor, quando não há entendimento sobre uma tese ou proposta, seja ela simples ou complexa, por mais que se queira, não funciona de todo como se desejaria. Foi o caso do “cinema direto”. Uma rotulação que, dentro do próprio movimento francês não era acolhida pela maioria dos integrantes. “… não havia um consenso total pairando sobre o que se discutia em termos do Cinema Direto, sequer no interior da própria Associação Varan”.
Afirmação que vem de ser publicada em livro, trinta anos depois, sob a organização de Lara Amorim e Fernando Trevas Falcone, intitulado “Cinema e Memória – O Super-8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980”. O saltério traz em suas páginas três curtas-metragens que realizei em Super-8, entre 1977 e 1982, que são, O Coqueiro, Prêmio da SUDENE no Festival Brasileiro de Cinema, Recife/PE, Misticismo – Folguedos e Tradições, com algumas de suas imagens transcritas no documentário sobre Pedro Osmar, e Africanos, curta que documenta a cultura popular representada por uma tribo indígena do Bairro da Torre, em João Pessoa. Todos os três curtas usando o nosso princípio de “registro direto”.
Uma outra expressão bastante venerada naquela época, e fora criada pelo cineasta francês Jean Rouche, que se contrapunha ao “cinema direto” dos que faziam a organização Varan, era “antropologia recíproca”. Slogan esse que defendia a importância do ser humano de forma ampla perante a sociedade, e que para uma boa parte dos formadores franceses se adaptava melhor ao registro documental cinematográfico, que estava sendo proposto naquela época pela Associação Varan. Detalhe: hoje, já se cogita da possibilidade de se retomar a bitola Super-8 nas próximas realizações documentais. Seria na tradicional bitola em película, filme, ou um Super-8 em novo modo digital? Uma questão a ser proximamente apreciada, se realmente ocorrer…
APC se congratula com seu parceiro e autor
O professor Carlos Meira Trigueiro é integrante da Academia Paraibana de Cinema, tendo como seu patrono o exibidor Agripino Cavalcanti, do antigo Cine Eldorado, em Patos, Paraíba. Carlos acaba de escrever suas memórias em livro, devidamente ilustrado, trazendo histórico sobre sua participação também na APC, desde a sua instalação, em dezembro de 2008.
Segundo o próprio autor, o lançamento da obra está previsto para ainda este ano, com uma memorável noite de autógrafos. Toda diretoria e demais pares da APC se congratulam com o seu parceiro e autor.