Existem situações tão estranhas, até fora de lógica, que jamais parecem reais. E para enfrenta-las, ou comentar sobre elas, pediria vênia ao leitor para sair um pouco do sério; seriedade, convenhamos, que sempre foi imperativo desta coluna dominical.
No plano das artes, sobretudo, vive-se hoje uma época de esquisitices. Isso, para não dizer que a nossa liberdade de expressão, também em cinema, tem seus limites morais e éticos a serem postulados. Entendendo-se, aqui, o livre-arbítrio sob uma melhor acuidade nas suas abordagens.
Tenho assistido com certa estranheza, nesses últimos tempos, algumas formulações sobre o cinema que me tem deixado desiludido. Embora tenha buscado esclarecer, insistentemente, em sala de aula com os meus alunos, na UFPB e em outras escolas por onde passei. E como se não bastasse a confusão no tratamento que andam fazendo, entre Cinema e o que seja Audiovisual, agora, imaginem, a movie art passou a ser “alimento”. Sim, comida! Cinema agora é um produto comestível.
Anteriormente, neste mesmo espaço de A União, falava da estranheza que seria uma tal imposição, de só ser possível um ingresso em cinema com “pipoca e refrigerante”. Agora, nos aparece “cinema com farinha”, nome dado para um evento no interior da Paraíba. Rotulado de festival de cinema, alí tudo que é inscrito, em audiovisual, como dizem, pode ir à farinhada…
A rigor, gostaria de saber o que entendem os idealizadores de um evento sobre o Audiovisual (ou mesmo que seja de Cinema), rotulando-o com um título desses. Seria plausível se dar melhor crédito a um festival como esse? Onde estariam as instituições que financiam tais eventos, que não percebem o tanto de chacota que ele pode representar, dentro e fora do seu próprio segmento cultural? Já não bastam, como se costuma comentar, as suspeitas sobre simpáticas e abjetas preferências por “a” ou por “b”, na seleção dos projetos, que podem ocorrer dentro dos gabinetes de fomento à Cultura, por vezes declaradas à imprensa pelos concorrentes perdedores?
Esta semana, lendo uma matéria do parceiro Guilherme Cabral, também em A União, novamente fui surpreendido com mais uma nominal esquisitice. E mesmo buscando na gramática o melhor sentido e originalidade da palavra, que tem distintas acepções, vi o produto Filme cinematográfico nominado, estranhamente, de “Carambola”. Ora bolas!
Aliás, gosto muito da fruta, quando docinha. É uma delícia!… Mas, diante de tantas coisas estranhas acontecendo neste mundo de Deus, daqui há algum tempo, persistindo as excentricidades desses dois exemplos aqui mostrados, convidaria o leito a degustar de um banquete em que será servido o seguinte e apetitoso cardápio: cinema com farinha e, de sobremesa, a fruta natural carambola, ou o suculento carambolado; ou, mais algum “cine-comida”, que se crie daqui pra frente… É pegar ou largar…
APC: Associados falam sobre “O que é Cinema?”
A atriz Zezita Matos, presidente da Academia Paraibana de Cinema, e mais dois integrantes da APC, o cineasta Alex Santos e o jornalista Renato Felix, participaram de recente documentário, argumentando sobre “O que é Cinema?”. As declarações fazem parte do audiovisual “Experimentalismo”, do realizador Daniel Rosas, curta-metragem de nove minutos de duração, com uma narração do próprio diretor.
Para Zezita, como para os demais entrevistados no audiovisual, Cinema é uma arte completa, porque envolve, ao mesmo tempo, outras formas de artes – fotografia, música, teatro… “Fazer cinema é de uma responsabilidade muito grande”. O vídeo está no link: https://youtu.be/gPbYz9GMRU0