Sobre a criação de “Uma fábrica do audiovisual”

Foto: Museu e Cinemateca Brasileira de São Paulo. A semelhança arquitetônnia é notória com os prédios da Matarazo.

Bem posta é a afirmação de um dos dirigentes da Funjope, de que a criação do novo polo de audiovisual, a ser construído nas ruínas da antiga fábrica Matarazzo, no Varadouro, dará um impulso novo e contribuirá para o fortalecimento do setor. Ainda bem que, nas circunstâncias atuais, ele frisou “audiovisual”, porque polo de cinema seria uma outra coisa muito diferente…

E segundo o que foi asseverado em reportagem, aqui mesmo em A União, o tal “projeto vai dar abertura ao diálogo entre as entidades culturais e os profissionais do segmento audiovisual”. Sentença essa bastante considerável, que, de imediato, foi debatida em recente encontro na Academia Paraibana de Cinema, que tem um entendimento pactuado por alguns experts no assunto, de que não apenas enxerga, mas ver o Cinema sob um outro parâmetro de discussão e de realização. E deixa um lembrete: Que a nova “fábrica do audiovisual” se preocupe, sobretudo, com os nossos acervos cinematográficos e videográficos já existentes. Lembrando aquela relação arquitetural sua com a do Museu da Cinemateca Brasileira de São Paulo.

E como membro da APC, vejo uma diferença bastante clara do que seja Cinema e Audiovisual. E tenho escrito bastante sobre a ilusão de muitos videomakers, que é a de se fazer um trabalho audiovisualizado, chamando-o de “cinematográfico”. E, embora deixando um pouco de lado o princípio “cinético” (imagem em movimento) da Física, diria que o segmento cinematográfico implica em coisa muito mais séria, social e economicamente, que é o de Mercado.  

Não é de hoje o entendimento, diria até doutrinário, de que, verdadeiramente, a Cinematografia é uma atividade profissional. E como tal, o Cinema implicaria numa formulação tripartite: Produção-Distribuição-Exibição. Formação natural de Indústria & Mercado cinematográficos. E pelo que até hoje vimos e entendemos, tal realidade jamais se firmou no Brasil. Mesmo nos velhos tempos da Vera Cruz (São Paulo), da Atlântida e Cinédia no Rio de Janeiro, empresas que tiveram efêmera culminância no final dos anos 1940, até meados de 1960, à lá Hollywood, entre outras tentativas malogradas. Mesmo na boa fase do Cinema Novo. E com a chegada no país da televisão, quase tudo naufragou de vez…  

Lembro também, por residir em Brasília durante o governo Collor, da criação de um tão badalado Parque Industrial de Cinema da Capital Federal. Anos depois, soube que o tal parque nunca fora concluído, ficando só no papel e em algumas esqueléticas armações de obras físicas. Moral da questão, cinema mesmo deve ser financiado-negociado pela iniciativa privada, sobretudo. Essa história de editais de fomento ao cinema, desculpem a franqueza, não condiz com o papel da verdadeira Sétima Arte.  

Verdade ainda é que, em termos de produção, o segmento documental, ou até mesmo o ficcional, naturalmente foi alterado com o tempo, pelas facilidades de uso das modernas tecnologias de Edição (não confundir com Montagens de Filmes). O Documentário estaria sendo rejeitado aos poucos e trocado por algumas narrativas audiovideográficas ficcionais mais complexas, sobre vidas e fatos, diante da lepidez dos “recursos de continuidade”. Agitação essa que vimos constatando, inclusive na grande maioria dos inscritos em certames (muitos deles rotulados de “festivais de cinema”), mas são na verdade eventos sobre audiovisuais. Mesmo assim, de notória acuidade ao aprendizado de uso na construção das imagens em movimento. Mas essa é uma “tendência” (sic) que nos tem levado ao streaming fact, na razão direta das possibilidades tecnológicas e das variadas mídias que dispomos. Quando, ao simples toque de uma tecla digital, somos remetidos ao mundo virtual da Internet; não mais à essência da Arte-do-Filme…


APC: Semana de Acolhimento dos Estudantes

O Centro Acadêmico Zezita de Matos, que leva o nome da presidente da Academia Paraibana de Cinema, e que tem a parceria da APC há mais de dez anos, estará realizando, na UFPB, a Semana de Acolhimento dos Estudantes do Curso de Cinema, de 21 a 25 deste mês. Isso ocorrerá na primeira semana de aulas presenciais da universidade.

Reunião que definiu a semana de acolhimento aconteceu recentemente, com participação dos integrantes da APC, João de Lima, Fernando Trevas e Matheus Andrade, além do corpo docente do curso.

1 Comment

  1. É muito bom professor saber que haverá um espaço em João Pessoa destinado ao cinema e as filmagens no Varadouro.Além de revitalizar o centro histórico espero que o espaço possa ser usado pelos antigos e jovens cineastas na produção de filmes.Estou fazendo pequenos vídeos caseiros onde aprendo e acerto sobre como fazer filmes e sobre o retorno das aulas na faculdade de cinema da UFPB,meu objetivo é continuar produzindo meus filmes amadores e tentar ingressar naquela faculdade dentro de 2 ou 3 anos se a pandemia permitir.Parabéns pelo texto,vou acompanhar o “Coisas de cinema”.

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