O cinema paraibano, se assim podemos ainda o definir, tal como é visto hoje por uma nova geração de “videomakers”, sempre teve uma inclinação pelo Documentário. “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” tenha sido, segundo Glauber Rocha, a marca e opúsculo ao tirocínio de nossos “cineastas”, aos quais me incluía nas décadas de 1960/70 do século passado.
Não sem razão, a singularidade desse segmento e os feitos conseguidos são marcantes, por obras pioneiras como Sob o Céu Nordestino, de Walfredo Rodriguez; Aruanda (Linduarte Noronha); Romeiros da Guia (João Ramiro Mello); A Bolandeira (Wladimir de Carvalho), O Coqueiro (Alex Santos), A Feira (Machado Bitencourt); Homens do caranguejo (Ipojuca Pontes); entre outros. Filmes que conceberam, mesmo naquela época, uma fase utópica e tão almejada ao verdadeiro cinema; no que Cinema realmente representa… Fatos acima que podem ser checados em Cinema & Revisionismo, que publiquei em 1982, pela Editora A União.
Pelo que temos de história sobre o nosso cinema, nunca existiu aqui uma atividade profissional genuinamente cinematográfica. E isso ainda serve aos dias de hoje. “Internacionalizar o cinema paraibano”, acredito ser uma falácia, um desatino. Que cinema temos na Paraíba? Contudo, não deixa de ser meritório o esforço de levar nossa produção audiovisual e seus “videomakers” também pra fora do estado.
O único cometimento de empresas, que me lembre, foi com o filme O salário da Morte de Linduarte Noronha, em 1970, na tentativa da criação de uma companhia para tanto (Cactus), pela dupla Zé Bezerra & Solha, mas que feneceu logo após o malogro comercial do filme. Não em razão do conteúdo da obra, mas porque lhe faltou um dos segmentos essenciais ao verdadeiro cinema, que é a Distribuição. O que se verificaria em tentativas outras, na Paraíba, como foi o caso da Paraíba Produções, da Repson Filmes, da Solama Filmes (laureada pela Sudene em 1977, com O Coqueiro), além da Cinética Filmes de Campina Grande, que teve ampla longevidade realçada pelo empenho do cineasta Machado Bitencourt.
Não é de hoje o entendimento, diria até doutrinário, de que verdadeiramente a cinematografia é uma atividade profissional. E como tal, o Cinema implicaria numa formulação tripartite: Produção, Distribuição e Exibição. Portanto, isso implicando na formação natural de Indústria & Mercado cinematográficos. O que entendamos, tal realidade jamais se firmou no Brasil. Mesmo em tempos da Vera Cruz (São Paulo), da Atlântida e Cinédia do Rio de Janeiro, empresas que tiveram efêmera culminância no final dos anos 1940 e meados de 1960, entre outras tentativas malogradas. Inclusive, na fase do Cinema Novo e com a chegada da televisão no país. Lembro também, por residir em Brasília durante o governo Collor, da criação de um tão badalado Parque Industrial de Cinema da Capital Federal. Anos depois, soube que o tal parque nunca fora concluído, ficando só no papel e em algumas esqueléticas obras.
Verdade é que hoje o “segmento documental” foi naturalmente alterado com o tempo, pela facilidade de uso das modernas tecnologias de Edição (não fundir com Montagem de filmes). O Documentário estaria sendo descartado aos poucos e trocado por narrativas audiovideográficas ficcionais sobre simples alegorias de vidas e fatos. Lógica essa que vimos constatando, inclusive através da maioria dos inscritos em festivais (muitos deles rotulados de cinema), mas são, na realidade, de audiovisuais. Mas essa é uma “tendência” (sic) que nos tem levado ao streaming fact, na razão direta das possibilidades tecnológicas e das variadas mídias que dispomos, quando ao simples toque de tecla digital, somos remetidos ao mundo virtual da Internet; não mais, à Arte-do-Filme.
APC: preito de gratidão in memoriam
A diretoria da Academia Paraibana de Cinema registra o dia de ontem (sábado 11 de dezembro) como o dia de falecimento de um de seus membros, ocorrido em 2005, aos 91 anos de idade, na cidade de Santa Rita, o paraibano SEVERINO ALEXANDRE SANTOS, Patrono da Cadeira 5 da APC, hoje ocupada pelo seu filho, o professor e crítico de cinema Alex Santos.
Pioneiro exibidor paraibano, “Severino do cinema”, como era bastante conhecido, iniciou logo cedo trabalhando no Cine Independência, ainda no tempo do cinema mudo. Ainda jovem, com ajuda da família construiu suas próprias Salas de Projeção – três delas em Santa Rita e uma outra no distrito de Várzea Nova. Foi quase meio século de continuada atividade, durando até o início dos anos 1980.
PARABÉNS, amigo! O seu comentário apresenta a real história paraibana da sétima arte. Seu Severino do Cinema, como era chamado carinhosamente por todos que o conheciam e eu tive a honra de conhecê-lo, continua presente na nossa memória como o primeiro exibidor cinematográfico da Paraíba. Tiro o chapéu para você.