Em “As Espiãs de Churchill”, um olhar feminil no cinema

Foto: “Atriz Sarah Thomas interpreta uma das espiãs de Churchill.”

Não foram poucos os filmes que retrataram a história das civilizações, sobretudo das guerras. Porém, quase nenhum deles sustentou a mulher no comando de uma direção. Sua presença no cinema sempre foi à frente das câmeras; jamais por detrás delas. Durante muitos anos a mulher foi apenas um mero “ícone estético” de charme e beleza visual na telona e na telinha.

O tempo passou e a coisa hoje tem mudado de figura, fazendo com elas tenham uma posição de igualdade e responsabilidade no mercado produtivo do cinema, não apenas como atrizes, mas guiando suas próprias realizações. E isso vem ocorrendo não apenas nos atuais movimentos audiovisuais locais, que tão bem conhecemos, mas no país e no mundo todo.

Sem querer destacar nomes, sobretudo da realização paraibana, afirmo que o crescimento do número de mulheres na direção de obras já é bastante considerável. Sobretudo, quando assistimos aos filmes estrangeiros. Cada vez mais elas têm mostrado uma sensibilidade diferenciada no fazer de suas produções, o que vem faltando a alguns diretores novos, embevecidos com as novas tecnologias audiovisuais e suas bizarras virtualidades.

A rigor, isso se comprova através dos streamings nossos de cada dia. É só verificar o número de produções interessantes não apenas dirigidas, mas totalmente produzidas por mulheres, ocupando um mercado que, outrora, fora totalmente masculinizado.

Esta semana, ainda sob “clausura antipandêmica”, recorro à Netflix e vejo o interessante “As Espiãs de Churchill” (A Call to Spy). Trata-se de uma produção americana de 2019, que tem como foco a Segunda Guerra Mundial, precisamente, durante a ocupação alemã na França, no início dos anos 40. A direção é de Lydia Dean Pilcher, americana advinda do documentarismo, e segundo dados publicados, com larga experiência na produção de cinema e televisão, com indicações inclusive ao Oscar.

O discurso do filme, com mais de duas horas de duração, é centrado na participação dos ingleses junto à Resistência Francesa, contra a ocupação dos nazistas em território francês. Mas, a história não se preocupa muito com os detalhes e estratégias do inimigo, mas com a presença feminina nessa guerra, cujo enredo e as performances das atrizes são realmente satisfatórios. Que se dê destaque, inclusive, à personagem Virginia Hall (Sarah Megan Thomas), a espiã que comanda toda a operação aliada contra os nazistas.

A direção minimiza os detalhes já vistos e revistos em outros filmes do gênero, em que o nazismo figura como personagem central. Neste, a direção prioriza a mulher, valorizando a seriedade e sua importância como espiã no contexto da ocupação em Paris. Enfoque esse nem sempre dado pelo cinema com sutilezas, agora fundamentado em personagens reais como o de Helen Taylor Thompson, remanescente de guerra, hoje com de 90 anos de idade. É uma obra atraente a se assistir, diante de tantas baboseiras impostas a nosotros latinos pelo próprio streaming.


API lembra o pioneirismo de seu patrono

Patrono da Cadeira 5 da Associação Paraibana de Cinema, esta semana, se vivo fosse, o paraibano Severino Alexandre Santos completaria 107 anos de idade. Pioneiro construtor de suas salas cinema e exibidor, em Santa Rita e distritos, Seu Alexandre destacou-se como um dos maiores investidores do ramo da cinematografia no Estado.  

Natural da região do brejo paraibano, de herança genética portuguesa, Severino advém de família tradicional, José Gonçalves, que aqui chegou por volta de meados do século dezoito, adquirindo terras e fundando engenhos de cana-de-açúcar, fixando-se e dando origem à Vila de Independência, hoje de nome Guarabira.