
Poderia ser esse um questionamento apenas fundamentado nas rotineiras e atuais possibilidades tecnológicas. Mas cinema é uma arte que vai mais além do que o uso de tais capacidades eletrônicas. Essas, que lhe têm servido até de forma inverossímil, tantas vezes exacerbada e imprudente, nos últimos tempos.
Enganam-se aqueles, ao pensarem que o cinema – ou Arte-do-Filme, para usarmos uma expressão mais ortodoxa, de exata terminologia –, “depende tão somente da audiovisualização da imagem”. Acredito ser bastante pobre essa afirmação, quando entendo que a composição formal do cinema é muito mais complexa do que parece. Não que se tenha de abdicar de benefícios audiovisuais dos novos tempos. Não é isso. Como se verifica, a clássica filmagem/montagem foi trocada por meras gravações/edições eletrônicas, minimizando custos de produção, o que é positivo. Mas, exacerbou a virtualização da pura realidade.
Analisando-se com acurada atenção a Teoria do Cinema, haveremos de encontrar os fundamentos reais de sua conciliação estética, formal, temporal e espacial, onde se abriga, indiscutivelmente, a Narrativa. E a forma narrativa no cinema é o que conta. É quando se buscam as diferenças plausíveis, entre um simples resgate de imagens a um discurso de valores imagéticos diferenciados.
Usando de uma expressão que admiro muito, e acredito ser conexa para definir a Sétima Arte, que é a do cineasta italiano Federico Fellini – “Cinema é Luz!” –, diria que, essa “Luz”, não é apenas a luz de um simples écran (ecrã). Imagem luminosa produzida por uma telona de cinema ou telinha de televisão ou de seus análogos. Essa é uma luz que vai muito além… Vai aonde é possível se encontrar uma capacidade humana de construí-la, real e verdadeiramente, buscando criatividade e firmeza de propositura narrativa estórica ou histórica.
E aí é onde se insere a indagação acima: Que futuro espera o verdadeiro cinema? Como reagirá o clássico cinema em razão das atuais tecnologias?
Anos atrás, não sem razão, intuí que devia fazer uma séria homenagem ao cinema, alegoricamente, criando uma metáfora sobre o seu nascimento. Mas um advento que não só tivesse a marca real e verdadeira daquela dos Irmãos Lumière, Edson e demais. Contudo, que fosse o de sua criação a partir da Luz. E nada melhor que o próprio cinema para “contar” essa saga. Nasceu, então, “Elipse – A Idade do Cinema”. Seria sua gênese da gênese, com macacos, na Pré-História, descobrindo o valor da luz natural e exaltando-a através de seu repasse aos novos tempos, numa acertada figura de linguagem: Elipse. A transmudação de tempo se confere, passando primeiro pelo Renascentismo de Michelangelo e seus luminosos estudos, também pelos ensaios estéticos de Da Vinci, até chegar aos “Tempos Modernos”, num arremate visual bem erguido por Charlie Chaplin. E concluí, então, que estava certo quando realizei o audiovisual “Elipse”.
Nesta semana, assistindo no canal Curta-tv “A História do Cinema: Uma Odisseia: Ano 2021”, que revê a trajetória do cinema no mundo, com as suas virtuais inovações e pirotecnias visuais, fiquei mais convencido das enormes mudanças que vem sofrendo o cinema. Sobretudo suas narrativas de tempo e espaço, que já não são unidimensionais, próprias do Homem e seus feitos. A “realidade” ora proposta nos deixam incógnitos, sim, ao futuro da arte-do-filme. Portanto, a lógica nos diz: Perde-se a essência da Arte-Cinema, em razão de uma tecnologia virtual exacerbada, que não sabemos até onde vai chegar…
API abre Sala “Barreto Neto” para visitas
Com as novas medidas de relaxamento social, em razão do declínio da pandemia da Covid-19, a diretoria da Associação Paraibana de Cinema resolveu abrir a Sala “Barreto Neto” para visitação pública, mas adotando todos os protocolos de segurança sanitária.
A sala “Barretinho” da APC está localizada na Fundação Casa de José Américo, na praia do Cabo Branco, em João Pessoa. A sala fica aberta ao público no expediente normal, e lá os interessados podem ver muitas das publicações sobre o cinema paraibano.