Kaos: Uma expressão tão ancestral quanto cinema

Foto: “Os irmãos Paolo e Vittorio Taviani, premiados cineastas italianos.”

Considerado um dos maiores dramaturgos italianos, também escritor e poeta, Luigi Pirandello cunhou a máxima que diz: “Continuam a viver em nós, todos aqueles que já se foram.” O insigne Prêmio Nobel de Literatura de 1934 referia-se, apenas, aos seus próprios ancestrais (“aqueles”) ou às pessoas todas do mundo e seus eventos? Perduram indagações…

Parodiando o aforismo acima, ouso afirmar que, continuam em cada um de nós não apenas as memórias dos nossos antepassados, mas também alguns vocábulos, expressões e feitos de outrem, que, por razões várias, são cotejados através do real manifesto exercício da arte. Não obstante, jamais deveriam ser plagiados como sendo uma inovação pessoal de quem as usam. Isso, quer seja no plano da literatura, do cinema e até da música; ou, de alguma maneira, por alguém que, já dispondo de mídia, possa fazê-lo.    

Na língua portuguesa existem vocábulos e aforismos, e são muitos, que nos fazem pensar sobre os seus legítimos significados. Quando ferida a própria etimologia da palavra, algumas viram neologismos, outras são meramente repetidas à exaustão, ganhando assim foros desprezíveis, modernices e até supostas autorias. É o caso do vocábulo KAOS – de origem grega (“Kháos”), de domínio e uso deveras remotos pelo populaço; em nossa língua grafado de CAOS, cujo sentido houve de ser, dentre vários, inclusive o de distinguir o atual sistema de governo brasileiro, não menos o “front” representado pela grande maioria dos políticos, na sua obscuridade, incerteza, até “negacionismo”.

Conforme se sabe, na inata visão dos historiadores, a expressão “Caos” representa a seguinte metáfora: “Na origem de tudo, há o Abismo, Kháos para os gregos. Caos é a personificação do vazio primordial, muito anterior à criação, no tempo em que a ordem ainda não tinha sido imposta aos elementos do mundo.” Portanto, “Kaos” não é um invento de alguém do nosso tempo.

Visualizando-se, então, as teses acima referidas em termos de cinema, evocando mais uma vez Pirandello, teremos no vocábulo a titulação de um dos filmes mais emblemáticos do real cinema italiano de todos os tempos. Uma produção bastante remota, que data do início dos anos 80 e que tive o prazer de assistir em DVD doméstico, mais uma vez, desde os meus tempos de pós-graduando na Universidade de Brasília. Presente que me fora dado pelo meu orientador de tese e amigo, também cineasta Pedro Jorge de Castro.

“KAOS” é uma obra singular dos Irmãos Taviani – Vittorio e Paolo, que trabalharam sempre juntos. Vittorio Taviani faleceu em 2018, sendo seu último filme “Uma questão Pessoal”, de uma lista de mais de vinte. Conforme sabemos, a dupla foi influenciada politicamente pelo cinema de Roberto Rossellini, justo, a partir do impactante “Paisá”, de 1946. Cinema que o confuso Arnaldo Jabor, por ter sobrado com seu documentário “Opinião Pública” no Festival de Pesaro, em 1984, classifica o cinema italiano da época de “falta de talento” (sic).   Em cinco histórias bem contadas, ambientadas numa Sicília conturbada, no final do século dezenove, “Kaos” fala de uma mãe humilde, que passa toda sua vida à espera de notícias dos filhos, que emigraram para América. Um belo filme, que recomendaria sem reservas de ofício, justamente para aqueles que, de forma enganosa, continuam afirmando que a expressão Kaos é uma invenção musical do presente.


Próximo Fest Aruanda abre inscrições

Foram abertas nessa sexta-feira (20) as inscrições para a 16a edição do Festival Aruanda de Cinema, que será realizado entre 9 e 15 de dezembro. O interessado deve acessar a plataforma do festival e fazer sua inscrição, que pode ser de curta ou longa-metragem.

Segundo informa o produtor-executivo do certame, Lúcio Vilar, membro da Academia Paraibana de Cinema, cadeira 24, o festival será novamente de forma mista, em razão da pandemia, através da plataforma Aruanda Play e na rede Cinépolis de João Pessoa.