Mesmo sem “câmera russa” nosso cinema corre perigo

Foto: “Acervo do Nudoc da UFPB é de grande valor ao cinema paraibano.”

Peço vênia aos quantos me assistem nas domingueiras de cinema, para tocar num assunto deveras grave, quando retornaremos às questões sobre a Sétima Arte, já que a cinematografia é o que importa nesta coluna.

Não dá para acreditar no que estamos vendo nos dias de hoje. Fui do tempo de uma Universidade do livre pensamento, onde e quando se faziam discussões e se construíam ideologias educacionais superiores e sérias, sem qualquer cerceamento de liberdade ou ranço político-partidário, como os que assistimos atualmente por parte do seu comando central. Outrora, uma coisa era uma coisa; outra coisa era outra coisa. Não se misturavam. É como se diz: “Cada um no seu quadrado”. Ao que acrescento: com suas devidas responsabilidades.   

Vendo ultimamente a matéria publicada em A União sobre o vexame sofrido por uma das entidades mais sérias, importantes da UFPB, a Associação dos Docentes (Adufpb), que há mais de quarenta anos existe no recinto da Universidade, e que cresceu ganhando ampla representatividade junto à classe docente, dentro e fora da Paraíba, vem de ser agora ameaçada de expulsão do seu próprio campus. Sem querer adentrar os méritos judiciais (pró e contra) da questão, não dá para se aceitar essa afronta ora perpetrada pelo atual reitorado de tão importante Centro de Educação Superior. E só não se basta tentar camuflar atitudes sectárias afirmando: “Enquanto reitor, tenho um único partido: a UFPB”. Engodo! Por trás disso há o tal “chefão”…  

A rigor, e lembrando bem, já não mais existe o uso de uma “Câmera russa” de cinema a servir de pretexto às medidas de repressão externa sobre a instituição, fase triste ocorrida durante os tempos nebulosos da ditadura. Mas continua existindo, sim, o que é deveras mais significante e necessário a uma boa Universidade Pública, sobretudo em cinema, que haverá de ser a mente criativa daqueles que buscam as aspirações libertárias (não no seu sentido estrito, anarquista, mas da real liberdade de expressão) tão imperiosas às artes, em todos os seus segmentos.

E agora lembro de uma conversa que tivemos com o saudoso reitor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque em seu gabinete, junto com o seu vice-reitor e professor Serafim, ao assinar a nossa portaria em setembro de 1979, para que criássemos o Núcleo de Documentação Cinematográfica (Nudoc). Dizia Lynaldo da necessidade de ser aquele núcleo um organismo vivo, dinâmico, sem restrições ao pensamento cultural, político ou religioso. O mesmo princípio que adotara também para a criação do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular (Nuppo), à mesma época. Todos eles vinculados à Coordenadoria de Extensão Cultural da Pró-reitora Para Assuntos Comunitários da UFPB. Lynaldo sempre foi um homem de atitudes, de atos também empíricos. Liberava as ações de seus comandados num simples pedaço de papel, de onde quer que estivesse. Um prático gestor, daí o gigantismo da UFPB com seus sete campi criados por ele. Mesmo sob os despojos dos tempos de chumbo.

Fico então a imaginar o que será, daqui pra frente, do atilamento criativo na Universidade Federal da Paraíba. Sobretudo, em razão de posições progressistas de seus docentes e discentes, tão necessárias e próprias às artes no âmbito acadêmico. Razão essa que nos leva a advertir: o Nudoc que se cuide! Porque, neste momento, organismos como ele podem ser ameaçados com restrições indevidas, até por serem setores estruturais diretamente subordinados às “Côrtes”. Ao contrário de valorosas entidades livres, de importância para o ensino na instituição, como é caso da Adufpb. Agora, pelo jeito que anda a “carruagem” desse atual governo, coisa boa não há mesmo de se esperar.


APC já se articula para novas eleições

A Academia Paraibana de Cinema, através de sua diretoria, já iniciou os contatos com seus integrantes, visando as novas eleições na entidade. A informação é da própria presidente da APC, a atriz Zezita Matos, cuja gestão iniciou em 2018, sendo concluída este ano, na conformação do que prescreve os Estatutos da entidade.

Em razão da atual pandemia, estudos estão sendo realizados para uma nova modalidade eleitoral. “A votação de forma virtual, por exemplo, seria possível a ser realizada”, sugere o vice titular e prof. João de Lima.