Série turca admite uso da linguagem autonarrativa

Foto: “Atriz Burcu Biricik faz o papel de Fatma, uma perturbada assassina.”

Anteriormente, nesta mesma coluna dominical, escrevi sobre a questão do processo narrativo prolongado dos seriados veiculados no streaming. São longas temporadas, capituladas a se perderem de vista. E haja paciência para acompanhar essas sagas… Alguns seriados, com curta duração até satisfazem bem ao telespectador. Outros, contudo, tornam-se cansativos, enfadonhos, até desproporcionais e confusos.

Pois bem. Foi comentando o seriado que assisti na Netflix, “O Chalé” (Le Chalet), minissérie francesa em seis capítulos, de autoria de Alexis Lecaye e Camille Bordes-Resnais, que pude verificar as cenas por demasiado repetidas, devido a inclusão recorrente de flashbacks.

Houve de se verificar que, o recurso do flashback não é coisa de hoje, não. Trata-se de uma forma autonarrativa, que vem da moderna telenovela, muito mais antiga no folhetim que nos seriados atuais. Recurso esse, que faz de uma sequência de capítulos anteriores, um interregno explicativo no presente da mesma história. Contudo, o excesso desse recurso torna o enredo confuso.

Esta semana, motivado pela prima Sandra, professora da UFRJ que reside no Rio há muitos anos, fui ver na Netflix o seriado “Fatma”. Uma realização da Turquia, em seis capítulos, e que traz uma narrativa interessante sobre uma mulher perturbada com a morte do pequeno filho autista, rejeição do marido e uma discriminação forte onde reside e trabalha como faxineira. Um acúmulo de decepções que a tornaria uma assassina, justamente daqueles que tentam submete-la, em razão do seu marido e ex-presidiário, que está envolvido com quadrilhas urbanas e crimes.

Mas o drama tem outra vertente interessante, bem atual, que diz respeito à liberdade feminina. No seriado, é justamente no contraponto à opressão da mulher Fatma em seu país, a Turquia. Em razão disso, somado ainda ao seu estado de saúde mental, desenvolve a habilidade de assassinar homens que se postam em seu caminho, na procura obstinada do marido desaparecido. Assim, acaba cometendo vários crimes sem deixar vestígios.

“Fatma” é um policial produzido este ano para televisão e foi dirigido por Özer Feyzioğlu e Özgür Önürme, com destacada atuação de Burcu Biricik, protagonizando a mãe assassina. Série em única temporada de 6 episódios, que teve sua estreia na Netflix agora no final de abril. Apesar de ser bem dirigida, a série tem uma narrativa arrastada, pouco convincente para o número de capítulos. Afora os flashbacks, sobre os quais me referi antes, trazendo recônditos lances do passado de Fatma com o seu amado filho, tragicamente falecido num atropelamento, a trama insiste na ratificação do então estado mental da personagem, vez por outra, perdendo-se em divagações menores sobre terceiros. Mas é uma boa opção, diante das muitas pirotecnias que hoje dispõe a Netflix.


Patrono da APC lembrado em livro

A presidência da Academia Paraibana de Cinema se congratula com a família do jornalista e cineasta Jurandy Moura, Patrono da Cadeira 15 (que tem como ocupante o ator Fernando Teixeira), e com o jornal A União pela publicação do seu livro “Iluminuras e outros poemas”, lançado quinta-feira passada pela Editora do Governo do Estado.

Jurandy Moura realizou alguns filmes de caráter didático, nas bitolas 16 e 8 mm, mas sua obra maior foi o “Padre Zé Estende a Mão” de 1969, em 16mm. E com ele concorreu aos festivais de Oberhausen (Alemanha), Cracóvia (Polônia) e Londres (Inglaterra). Participou também de roteiros de filmes paraibanos, sendo presidente da ACCP – Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba. Faleceu em 1980, com 40 anos de idade.