
Quando resolvemos realizar “Poltrona Rasgada”, pessoalmente tive uma preocupação em adotar uma estrutura narrativa que fosse linear. Mesmo por que, eu e o parceiro Manoel Jaime trataríamos de um fato realmente acontecido; não uma simples ficção. Íamos rever um acontecido hoje considerado de menor gravidade, ao contrário daquela época, mas que fosse compreensível sobre o ocorrido no seu tempo. Daí, as muitas reuniões para chegarmos ao consenso…
Sempre no trabalho que realizo, invariavelmente, tenho a atenção toda voltada para a Continuidade. Realmente, “Poltrona…” não seria uma realização deveras fácil, ao contrário de outras que realizei, cujos roteiros já tinham a continuidade formalmente pré-estabelecida. Neste caso seria uma narrativa “caleidoscópica”, porém fragmentada. E isso poderia dificultar uma leitura mais linear do espectador. Mas, esse óbice nos encorajou ainda mais…
Optamos por sequências destacadas da repercussão social do acontecido na noite anterior, no Cine Rex. Buscamos na própria cidade e na comunidade de então, o “impacto” causado que nos faltava daquele fato. Uma construção que, embora segmentada, como disse, nos garantisse aquele nexo cinematográfico e narrativo de que precisávamos. Sequência singular é a dos frequentadores do caldo de cana “Querubim Bar” (na época, assim se chamava), no centro de João Pessoa, de uma conversa do projecionista do Rex (Rubens Moreira) com o seu amigo (Zé Nilton), um compulsivo jogador de bicho, tomando conhecimento do fato através do jornal A União.
Como é do nosso costume, desde que nos irmanamos para reverenciar a nossa Capital, suas memórias, vultos, fatos, cenografias, uma ampla conversa aconteceu entre mim, Jaime, Alexandre e Moacir Barbosa da produção. Foram inúmeras reuniões para decidirmos as linhas e formas a tomar na realização do “Poltrona Rasgada” – https://www.youtube.com/watch?v=hdensfYwSwg.
O consenso veio em razão da própria sociedade de então, seus costumes, vivências e ambientes – os encontros no centro da cidade, onde indivíduos comuns discutiam amenidades baseadas em “zum, zum” coletivo; hábitos das pessoas no âmbito doméstico ou fora de casa, atentas às notícias dadas pelo rádio; suas crenças nas informações da imprensa escrita e falada; optamos, enfim, até pelo enfoque à religiosidade das pessoas e suas confissões.
Mas faltava ainda algo muito especial ao próprio tema a ser abordado. O trabalho carecia daquela ode tão especial ao próprio cinema, já que fora ele a “vítima” do tão rumoroso acontecimento no final dos anos 1950. Elegemos, então, alguns instantes lúdicos da movie art, a exemplo de quando um garoto, segurando um balão vermelho (alusão ao filme de Albert Lamorisse), volta da escola para casa e caminha por lugares esquecidos da cidade, depois é visto brincando com o irmão de cinema dentro do quarto, com fotogramas do filme “Os Incompreendidos” de Françoise Truffaut, cujas imagens são projetadas na parede, transportando-nos ao interior do cine Rex, que exibe o mesmo filme. Mas, a sequência que nos transporta verdadeiramente aos bons tempos do cinema é a do “lanterninha”. Aquele que, ao término de cada sessão, busca entre as poltronas os pertences deixados por engano. E é numa dessas suas ordinárias curiosidades que descobre o mal feito do ignorado habituée, alvoroçando toda cidade no dia seguinte.
APC participa de live sobre cinema
Representando a Academia Paraibana de Cinema, a presidente e atriz Zezita Matos e o vice-presidente professor João de Lima participaram, no final da semana de uma mesa redonda virtual, no Sebrae, com participação do site fincc.com.br, sob o comando do ator e realizador Odécio Antonio.
O tema do encontro, segundo nota anteriormente publicada, foi sobre “A cadeia produtiva do Cinema, de Aruanda aos tempos atuais, na Paraíba”, ocasião em que, segundo o prof. João de Lima, entre os assuntos abordados, divulgou-se a obra “Américo – Falcão Peregrino”, do também acadêmico e diretor Alex Santos.