Não dá para se assistir ao filme “A Última Nota” (Coda), realização de 2019 com direção do estreante Claude Lalonde, sem que se dê, antes, uma passadinha pelos mistérios da alma humana tão bem delineados pelo filósofo prussiano Friedrich Nietzsche. Não que a temática do filme seja basicamente sobre o notório pensador do século XIX. Esse não seria o caso. Contudo, estabelece um parâmetro sobre o estado de ansiedade em que vive o então pianista Henry Cole (Patrick Stweart), personagem central, e sua aflita performance musical após o falecimento da esposa. Situação que vai se amenizando com a presença de uma jornalista do New York Times, Helen Morrison (Katie Holmes), influenciada por Henry quinze anos antes, querendo agora escrever sua história como célebre pianista que é, tendo o apoio de seu amigo e agente Paul (Giancarlo Esposito).
Em verdade (no looting), se podemos citar Nietzsche como referência no filme e no emocional do velho pianista, isso se justificaria por dois motivos: o filosófico e o meramente visório. Primeiro nas reflexões sobre a fragilidade humana, no caso de um musicista de sucesso, mas que é sempre acometido de uma espécie de síndrome de insegurança, sentindo-se receoso toda vez que vai se apresentar em público.
Segundo, está na acuidade do próprio espectador em captar explícita e visualmente um dado importante numa das cenas finais, quando o pianista se isola nos Alpes suíços e passa a residir numa vila, justamente numa bela casa de campo onde vivera o filósofo prussiano. – Lá, bem no alto, na soleira da porta principal da mansão uma placa com a seguinte inscrição: “Friedrich Nietzsche morou nesta casa, durante o rumoroso período de 1881 a 1888”. O que nos diz, possivelmente, ser o filósofo mais um imigrado como muitos prussianos, em razão dos conflitos imperiais entre países ocorridos no final do século XIX.
Mas o filme tem outras simbologias filosófico-visuais que merecem uma atenção especial como linguagem narrativa. Por exemplo, seus revérberos sobre as naturezas – A natureza humana e a Natureza ambiental; reais agentes motivadores da Arte, também do devaneio dos tantos que as buscam nas suas reflexões criativas, inclusive musicais. No caso específico da Natureza visória, o filme é um misto de plasticidade e beleza cênica incomum, justamente ao nos descobrirmos vivendo, também, o refúgio “alpiniano” do pianista.
Some-se às metáforas até aqui citadas, mais uma sobre a campestre rocha encontrada pela jornalista, ao caminhar alguns anos antes as mesmas trilhas de seu isolamento, também nos Alpes. Anteriormente, ela narrara ao pianista o sentido daquele inusitado achado. A mesma rocha que o pianista agora encontra e serve de ponto de reflexão e sentido sobre sua vida. A “presença” Nietzsche é perene no filme de Lalonde, até nas entrelinhas narrativas do roteiro de Louis Goldout. Porquanto, não só as reflexões do pianista são o que de melhor traduz o pensamento e estudo de alma do filósofo prussiano no filme… Assim, ipso facto, e não nesse grau de comprometimento humano, lembro de uma figura muito querida de nosso final de adolescência, meu primo músico Reginaldo Oliveira, ex-juiz e já falecido, saudosamente, que, indiretamente nos memoráveis anos 60, me influenciou a ler Nietzsche e Schopenhauer.
APC se congratula com sua acadêmica
A Academia Paraibana de Cinema, por meio de sua presidente, a atriz Zezita Matos, em nome da instituição, publicou uma nota de cumprimentos através da Fanpage APC-Group, à acadêmica e atriz Marcélia Cartaxo, pela sua brilhante atuação no filme “Pacarrete”, mais uma vez premiado, agora no 47º Festival Sesc Melhores Filmes.
Marcélia é ocupante da Cadeira 33 da APC, que tem como patronesse a veterana e também atriz Nautília Mendonça. No cinema, Nautília atuou em “Menino de Engenho” (em que o fez o papel de Zefa Cajá) e “Fogo Morto”, ambos inspirados nos romances de José Lins do Rêgo, honorário também da Academia Paraibana de Cinema.