Vendo uma matéria de A União na semana passada, assinada por Laura e Alexsandra, trazendo algumas memórias do amigo historiador José Octávio de Arruda Mello sobre a antiga Rodoviária da Primavera, senti uma nostalgia danada dos tempos em que também viajava à Recife, semanalmente, para tratar de compromissos dos cinemas do meu pai junto às distribuidoras de filmes – Warner, Paramount, Universal, Metro, RKO, Paris Filmes, e nacionais UCB e Atlântida.
Sempre às quintas-feiras, invariavelmente, estaria eu voando nas asas de uma Gaivota, que costumava sair da Primavera logo pela manhã. Mas só chegava à capital pernambucana três horas depois, dada as condições das estradas, principalmente após a fronteira da Paraíba. Alí, o asfalto acabava e uma estrada de barro nos levava através do canavial da Usina Maravilha até Goiana, quando retomávamos o pavimento.
As minhas primeiras viagens foram em companhia de meu pai Severino Alexandre (meu Patrono da Cadeira 5 da APC), que tinha o hábito de tomar o nosso desjejum na Rua Nova, centro da cidade, quando chegávamos. Depois, atravessávamos a ponte sobre o rio Capibaribe ao “Recife velho”. Próximo do Cais do Porto, a Rua da Assembleia sediava algumas distribuidoras de filmes. Menos a UCB, que ficava no prédio do Cine São Luiz, na Rua da Aurora. Não raro, só retornávamos de Recife à noite, tantas vezes carregando latas de filmes, cartazes e fotografias. Uma saga que durou algum tempo, antes de termos o nosso próprio transporte – um Gol Fuscão 1500, novinho em folha, comprado na loja da Volks aqui na capital.
Quando aprendi a dirigir e a viajar sozinho, durante quase dez anos, via sempre algo chamativo numa das sacadas daquele antigo prédio de esquina, de frente para o Rio Capibaribe, próximo à Igreja da Madre de Deus. Era o “Moulin Rouge”, exótico, diferente daquele que, décadas à frente conheci em Paris, quando gravávamos cenas do nosso audiovisual “Le Soupçon” (2011).
Pois bem, a Primavera jamais saiu de minhas andanças por João Pessoa. Mesmo quando fazendo locução na Rádio Correio na Paraíba, entre 1969/71 época de sua inauguração no Ponto de Cem Reis, e tinha que vir diariamente de ônibus de Santa Rita. E foi então na Correio que conheci o amigo de tantos anos, Moacir Barbosa de Sousa, discotecário da emissora e coparticipe dos nossos dois programas de cinema – Curta-Metragem (diário) e Cine-Projeção aos domingos –, também outros dois parceiros, já falecidos, o jornalista e ator Anco Márcio, do nosso filme “Arribação”, e Antônio Barreto Neto/Barretinho, quando presidente da ACCP – Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba, quando a ela me associei. Desculpem, pois, o meu desvio temático de hoje, mas não poderia deixar passar essas boas lembranças de cinema e de nossa cidade. Justo da época em que, uma simples poltrona rasgada de um dos nossos cinemas era motivo sério para que a comunidade pessoense tomasse suas dores.
APC exalta Américo Falcão no cinema
Para homenagear um dos vates mais importantes da cena cultural da Paraíba, Américo Augusto de Souza Falcão (cadeira 38 da APL), falecido neste mês de abril há 79 anos, a Academia Paraibana de Cinema resgata o poeta também no cinema e na obra de Walfredo Rodriguez “Sob o Céu Nordestino”.
No filme de Walfredo, como amigo do cineasta, Américo Falcão integrou a equipe de finalização do projeto ao formular na película os créditos que dão orientação estética e de leitura ao filme. Pois, a época era de “cinema mudo”. Sendo pelo feito, não apenas por sua linha poética, celebrado pelo escritor Humberto Nóbrega como “um artista nato” da cultura paraibana.