“Capelinhas do Tibiry” foi um projeto a se perder no tempo

Foto: “Capela de São Gonçalo do Patrocínio, Santa Rita-PB, tombada pelo IPHAN“.

Jornalista e crítico de cinema paraibano Antonio Barreto Neto (dileto amigo de saudosa memória), na apresentação do meu primeiro livro “Cinema & Revisionismo” (1982), afirma o seguinte: “Há mais de oito anos militando na crítica e na realização cinematográfica – e adotando em ambos os fronts, a mesma postura (digamos) política – Alex Santos tem a autoridade que lhe confere essa experiência para falar com desembaraço sobre as duas coisas.” E conclui: “A ideia de Alex é de que, desde que haja o real apoio dos poderes públicos e a soma de esforços isolados poderão reativar e estabilizar o processo de produção cinematográfica na Paraíba”.

O Cinema na sua revisão histórico-política, a que Barretinho se refere, terá sido a minha preocupação naquela época, quando escrevi o livro. Agora, diante das incertezas, reflito e ratifico a tese sobre a necessidade de um responsável “revisionismo”.

Venho acompanhando, de há muito, o envelhecido discurso entre alguns agentes culturais do poder público e a classe artística – considerada, realmente, a construtora de artes; não só da Paraíba. São ululantes alocuções e promessas, todas carregadas de benesses ao fazer de uma cultura sempre pedinte, ajuda essa que nem sempre acontece. A não ser para “os mesmos”.

Cotejando bem, tais “plácitos” são como se fossem supostos e profícuos canais irrigantes a desaguarem em agras baixas lavouras, viabilizando-as prosperidades. E que seria um real benefício cultural à classe trabalhadora, através dos faustosos editais de fomento cultural, que nem sempre chegam para todos, em razão das sabidas exceções…

Pelo que tenho visto ao longo dos tempos, nem sempre um bom projeto cai nas graças – o que chamaria de “sortilégio beneficente” – de um provedor de recursos desses editais de apoio financeiro à arte. E isso ficou comprovado há quinze anos atrás, quando submeti uma proposta de filme documental direcionada às escolas de Ensino Público do Estado, a um então gabinete de cultura, que naquela época vivia às turras com o então prefeito da cidade de Santa Rita. Proposta que fora chancelada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), quando sua sede funcionava ainda na Praça Rio Branco, época da superintendente Eliane de Castro Machado, de saudosa memória. 

O projeto, inscrito em tempo hábil, mesmo aprovado em duas comissões da própria Secretaria de Cultura do Estado – jurídica e financeiramente – foi rejeitado pelo gabinete de fomento, simplesmente porque lhe faltou o “jeitinho simpático”, próprio/habitual, da ampla maioria dos demandantes. Desde então, tenho produzido nossos audiovisuais com recursos próprios e de parceiros que comungam do mesmo pensamento que eu. Poupando-me, assim, de alguns protocolares constrangimentos. 

“Capelas do Tibiry”, proposta que submeti para cinema documental, originalmente em bitola fílmica de 16mm, elaborada sobre as igrejinhas barrocas, tinha como foco a Colonização da Paraíba – História pura! Pesquisas sobretudo em Horácio de Almeida, além de assessorias abalizadas junto aos historiadores locais, como José Octávio de Arruda Mello e a santarritense Martha Falcão de Carvalho, ambos do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP). Nosso projeto fílmico realçava as bases das primeiras edificações religiosas do século XVI, revendo as capelinhas de Tibiry, nos canaviais de Santa Rita, inclusive a de São Gonçalo do Patrocínio (foto), tombada pelo IPHAN. Hoje, vejo com certa apreensão essa história do fomento institucional à Cultura. Até pelos atuais crivos federais à liberdade de expressão de artistas e imprensa, em todo o país. No entanto, admito: há de se insistir sempre, se for um projeto culturalmente educativo e válido, como foi o nosso àquela época. Triste episódio a me desencantar sobre os editais públicos.


APC e a Geração 59

Patrono da Cadeira 15 da Academia Paraibana de Cinema (ocupada hoje pelo ator Fernando Teixeira), o poeta e cineasta Jurandy Moura foi o autor do documentário em preto&branco “Padre Zé Estende a Mão”. Ele também foi integrante de raro grupo de poesias denominado Geração 59, juntamente com uma dezena de parceiros paraibanos.

A participação de Jurandy na poesia consta das páginas de um livro, que tem por título “Geração 59”, editado pela Linha D’água, e reeditado em 2009, que esta semana foi entregue pelo historiador José Octávio de Arruda Mello à Academia Paraibana de Cinema, para fazer parte do seu acervo. A diretoria da APC agradece ao insigne historiador.