A indicação de um filme brasileiro ao próximo Oscar, pelo que se sabe, ganha contornos diferenciados. Digo isso, em razão do que já se comenta nos poscênios de Hollywood, a partir da esperta rejeição da Academy of Motion Picture Arts and Sciences ao presidente Trump. Antipatia essa que, ainda segundo a mídia estadunidense, se amplia ao presidente Bolsonaro.
Essa coisa fica ainda mais clara, quando em meado deste ano, para evitar ingerência do governo federal na escolha do filme brasileiro para o Oscar, Hollywood determinou que a seleção deveria ser feita exclusivamente pelos cineastas e Conselho da Academia Brasileira de Cinema. No meu entender, uma decisão deveras sensata, quando se sabe existirem possíveis “comandos sujos” de gabinetes direcionados à censura de obras nacionais, como ocorreu recentemente com os documentários “Chico Buarque” e, mais ainda, sobre o revolucionário Carlos Marighella.
Independente dessa nova encrenca, bloqueando habituais influências de governo na escolha de uma produção do Brasil ao Oscar, vejo que, desta vez, pode dar certo a indicação feita pela ABC. E gostaria de queimar a língua, em antecipar mais uma decepção do nosso cinema na premiação do Oscar.
Mas, em plena pandemia, pelo que entendo, há um dado novo que deve ajudar: recentemente, Hollywood adotou novo modus operandi – “ampliando a sua diversidade de gênero” no Conselho de Seleção dos filmes inscritos –, convidando apenas profissionais de cinema brasileiros para fazer parte da Academia. Mesmo assim, sabemos que, de há muito o cinema nacional não é agraciado com a cobiçada estatueta.
Em agosto passado, pelo que informou a Academia Brasileira de Cinema, foi selecionado o documentário “Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou”, da atriz Bárbara Paz. E aqui, leve-se em conta a rica biografia do cineasta Hector Babenco, que não desmerece a importância do prêmio.
Indicado ao Oscar de Melhor Direção em 1984, pelo irreverente “O Beijo da Mulher Aranha”, uma produção conjunta américo-brasileira, Babenco não conseguiu, mas seu filme levou o prêmio de Melhor Ator para o americano William Hurt, que teve na contracena o porto-riquenho Raúl Juliá, também a atriz Sônia Braga e mais alguns atores brasileiros.
Mesmo não tendo sido agraciado com o Oscar daquele ano, Babenco foi reconhecido anteriormente em outros festivais. Em 1980, ganhou Leopardo de Prata, de Locarno na Suíça, com “Pixote: A Lei do Mais Fraco”, além de outras tantas boas indicações com seus filmes “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” e “Coração Iluminado”. São indicações e prêmios em muitos festivais, que sempre reconheceram a importância de sua obra para o cinema nacional. Agora, esse documentário dirigido pela atriz e esposa Bárbara Paz, uma espécie de tributo ao marido Hector Babenco, falecido em 2016, diria que o cineasta argentino-brasileiro pode ter mais uma chance…
Blog promove exibição de “Poltrona Rasgada”
O blog da Academia Paraibana de Cinema, criado e administrado pelo acadêmico da APC Carlos Trigueiro (Cadeira 48), já está disponibilizando o mais novo audiovisual paraibano “Poltrona Rasgada”.
Média-metragem dirigido por dois outros integrantes da Academia de Cinema, os professores Alex Santos e Manoel Jaime Xavier, a obra resgata um fato acontecido em um dos cinemas de João Pessoa, no final no dos anos 50 do século passado, e que repercutiu muito na sociedade de então, que tinha no cinema o grand debut artístico-cultural do entretenimento daquela época.
Para acessar o audiovisual “Poltrona Rasgada”, basta clicar no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=hdensfYwSwg