O cinema paraibano sempre se pautou nos feitos de seus pioneiros. Isso, desde os tempos de Walfredo Rodriguez no plano do documentário, ou muito antes, com Nicola Maria Parente em sua performance de “alma de artista e visionário”, trazendo para a Parahyba, ainda nos fins do século dezenove, o revolucionário cinematógrafo, como umas das atrações da Festa das Neves.
Certamente, jamais seria justo ver esse cinema de tantas e importantes memórias só com base nos feitos atuais, ou apenas só a partir de “Aruanda”, olvidando os reais esforços daqueles que abriram veredas para os nossos caminhos, literalmente “manivelando” uma fantasia de luzes e sombras.
Afirmo isso, em razão das decepções que tive com a maioria dos meus alunos, quando indagados sobre o pioneirismo do nosso cinema, sobre o qual nada ou quase nada conheciam a respeito. O que é deveras grave para uma juventude hoje militante no campo do audiovisual (e até em cinema), sem conhecer-lhe as verdadeiras origens.
Sempre tenho afirmado que, se considerarmos as coisas pelo curso das memórias, é muito mais fácil se aquilatar os feitos do presente. A história do cinema paraibano é tudo, como referência às práticas atuais. E não sem razão, tenho parceiros que comungam dessa compreensão, igualmente atinados a se preocuparem com a nossa Memória Cultural. Amigos tais, com quem tenho mantido diálogos atilados na construção de alguns trabalhos, sobretudo em razão da nossa Capital, sua estética urbana e figuras humanas singulares.
Quando da realização de “Antomarchi”, em 2010 – em que dividi anseios de valorização sobre a nossa urbe, seus enredos e cenografias, com o parceiro Mirabeau Dias –, traçamos o relato intrigante de um personagem revivendo um passado cheio de nuanças existenciais. Iniciava-se ali, a rigor, uma trilogia que passaria por “Américo – Falcão Peregrino”, alguns anos depois, concluída agora com o “Poltrona Rasgada” (lançamento previsto para ainda este ano). Esses dois últimos trabalhos com o aporte de conhecimentos de dois nobres parceiros, também zelosos das coisas do cinema e da cidade em que vivemos.
Igualmente escritores, não menos “cinemistas” como eu, Manoel Jaime Xavier e Moacir Barbosa de Sousa abraçaram o projeto da “Poltrona…”. Não apenas pelo registro de um evento até hoje aceito como verídico, ocorrido em uma importante sala de projeção de João Pessoa, havia mais de sessenta anos, mas pela repercussão que teve socialmente na época, quando a movie-art era considerada o grand début cultural da época. Pois bem, todo esse relato é para lembrar que, quer se queira ou não, nossas raízes são representativas para o que hoje construímos. Se assim não fora, que importância teria a História dos povos?
FestAruanda a todo vapor…
Academia Paraibana de Cinema (APC), parceira que é do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, apoiou e registra importante live coordenada pelo professor Lúcio Vilar, acadêmico da APC (cadeira 24), debate em que teve a participação do escritor mineiro Fernando Moraes.
O encontro serviu para se discutir sobre “Literatura que virou Cinema” e o sentido das adaptações de obras do escritor, entre elas, “Corações Sujos”, “Olga”, “Os Últimos Soldados da Guerra Fria” e “Chatô, o Rei do Brasil”, filme esse focado nas realizações do paraibano Chateaubriand Bandeira de Mello, precursor da televisão no Brasil.