Uma “estética” da escuridão que nos remeteu ao cinema

Lendo recentemente uma matéria do amigo Guilherme Cabral, em entrevista com o escritor paraibano Wellington Pereira, parceiro nosso da UFPB, sobre a sua mais nova antologia de contos “O Voo Noturno do Pintarroxo”, alguns pontos citados pelo autor em interview balizaram meu interesse pelo conteúdo da obra.

Primeiro, no que se refere ao título de um dos contos, o que me levou a lembrar de um filme que vi há mais de quinze anos, intitulado “A Sombra e a Escuridão”, cuja ação se passa na África com o ator Michael Douglas. E segundo, sobre um trabalho acadêmico apresentado na UFRN, que tive acesso, sob título “A beleza na escuridão”, e que trata de uma mulher com deficiência visual lidando com produtos de beleza.

No que diz respeito ao título de um dos contos de Wellington – “A Estética da Escuridão” –, justo o que abre seu livro, em que o autor imprime uma metáfora (assim como o fez ao “pintarroxo”), trata-se de uma “estética vivencial”, de um olhar social, mas sem o devido compromisso aos ditames visuais comuns à verdadeira imagem enquanto harmonia física de formas e cores.

Associando essa tal “escuridão” de que propõe o autor à real falta de luz, o feito nos conduz imediatamente ao processo de “luz e sombras”, fenômeno esse que sempre nos premiou a fotografia e o cinema. Em ambos segmentos, o escuro (falta de luz) tem um significado “visual” simbólico. Uma imagem “noir”, onde predomina o escuro, sempre foi expressiva como linguagem no cinema. O que dizer, então, de uma cena totalmente escura, mas com uma voz diegética impondo ao espectador maior atenção e leitura sobre ela? Essa “estética” sem luz alguma faz parte também de um possível discurso visual narrativo cinematográfico.

A outra questão que enfatizo na entrevista de Wellington Pereira é das relações entre o conto, “uma peça de jazz e um curta-metragem de cinema”. Segundo disse, nessas criações “É preciso manter o foco, que não pode ser múltiplo…”

Não em razão da música, do jazz, que não é da minha aptidão criativa, mas quanto ao curta-metragem, esse que me diz respeito, estou de acordo com o autor no que se refere a ser uma criação mais “mental” e também bem focada. Só que, no caso específico da cinematografia esses valores criativos são diferenciados, quando se trata de curta-metragem ou longa-metragem, sob as especificidades documentais e ficcionais. A obra ficcional no cinema exige uma narrativa de começo-meio-fim em razão de um ou mais personagens e seus conflitos. No documentário, essa narrativa é mero registro de fatos, que podem até envolver personagens… Aliás, são temas que devem demandar mais reflexões e estudos.

Entendo que, tanto a ficção como o documentário, sejam esses de curta ou longa duração, ambos têm seus tempos e espaços reflexivos a serem demarcados. No caso da construção ficcional mais ainda, por se tratar de um argumento em base literária, portanto, a partir de um folhetim ou coisa que o valha. Nesse caso é imperativo um verdadeiro padrão laborativo, capital exigência na construção do audiovisual. Quanto ao projeto de perfil do autor no Facebook, citado em interview, “Voltaire e as Quatro Estações”, não o conheço ainda. Terá alguma conexão com o filósofo iluminista Voltaire, a quem fiz referência em recente artigo sobre suas influências na Revolução Francesa, também se as “quatro estações” teriam a ver com a famosa peça musical de Vivaldi? Aliás, pelo que vejo nesse título, talvez não seja coincidência a conexão peculiar franco-italiana dos “VVs”. Enfim, parabéns acadêmico parceiro pela sua obra; a qual aguardo…


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